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4 Ensaios sobre Oscar Niemeyer: uma resenha

Carina Pedro*

O livro Quatro Ensaios sobre Oscar Niemeyer, publicado pela Ateliê Editorial, é uma ótima oportunidade de conhecer mais a fundo o trabalho do arquiteto brasileiro e os detalhes de seus projetos que viraram ícones do modernismo no Brasil e no mundo, assim como daqueles que nunca saíram do papel. A leitura dos ensaios também nos permite transitar pelas críticas que Niemeyer recebeu no decorrer de sua longa carreira, como isso influenciou seu desenho e o de outros profissionais contemporâneos. E, ainda, por meio de suas próprias reflexões, é possível sabermos o que pensava sobre a arquitetura e seu papel social.

O primeiro ensaio, “A Obra de Oscar Niemeyer em São Paulo”, de Paulo Bruna, trata dos projetos do arquiteto na capital paulista e no interior do estado, especialmente, aqueles realizados no início dos anos 50, pela filial do seu escritório em São Paulo, administrado pelo arquiteto Carlos Lemos. Essa fase de produção foi marcada quase que exclusivamente por um único cliente, o Banco Nacional Imobiliário (BNI), cujos acionistas principais eram Orozimbo Rouxo Loureiro e Otávio Frias. Entre os primeiros projetos na capital, o autor destaca o Edifício e Galeria Califórnia, com seu criticado pilar em V na fachada, e o Edifício Montreal, cuja planta de “sala e kitchenette” reflete as mudanças no estilo de vida dos moradores das grandes cidades.

No mesmo período, nasce o projeto do Conjunto Copan, que recebeu diversas alterações e foi concluído apenas nos anos 70. A ideia inicial de ser um misto de hotel e residência não se concretizou, o que não impediu que o edifício se tornasse uma referência de obra urbana, com suas galerias públicas e os seus 1120 apartamentos de diferentes metragens. Na sequência, Paulo Bruna comenta detalhes sobre outra obra de vulto, os edifícios construídos no Parque Ibirapuera, para a exposição do IV Centenário de São Paulo. A simplificação do projeto, por custo e prazo, foi considerada uma “mutilação” na época. Após diferentes propostas e reformas, os edifícios adquiriram diferentes usos e o conjunto foi tombado pelo Iphan.

Edifício Itatiaia em Campinas (1952), fachada posterior. Fonte: Hugo Segawa.

No segundo ensaio, “Entre dois pavilhões: a repercussão internacional de Oscar Niemeyer”, Hugo Segawa nos apresenta a visão dos estrangeiros sobre o trabalho do arquiteto. O projeto do pavilhão do Brasil na Feira Internacional de Nova York, em 1939, foi o início do seu reconhecimento crescente, levando-o a participar do grandioso projeto das Nações Unidas, na mesma cidade, iniciado no período pós-guerra. Os bastidores dessa obra foram marcados por discordâncias entre o representante francês Le Corbusier e o diretor de planejamento norte-americano Wallace Harrison. Do projeto conciliatório, do qual Niemeyer e Le Corbusier participaram, pouco foi aproveitado no projeto final da ONU.

Entre as críticas positivas ao jovem arquiteto, o autor destaca as de Pierre Guegen, que apontam o uso da curva como uma marca de sua originalidade, sendo a igreja da Pampulha um belo exemplo de ousadia. Já as de Nikolaus Pevsner, nos anos 60, colocavam os projetos de Niemeyer, com os de outros arquitetos contemporâneos, entre os exemplos de obras antirracionais. Segundo Segawa, essa crítica pós-moderna, mesmo na intenção de ser negativa, deu sentido à preferência do arquiteto brasileiro pela forma e beleza, já que o tempo comprova que as funções inevitavelmente se modificam, enquanto a forma se preserva.

O terceiro ensaio, “A revisão crítica de Niemeyer”, escrito por Rodrigo Queiroz, apresenta as principais mudanças ocorridas nos projetos realizados pelo arquiteto entre 1940 e 1960, do conjunto da Pampulha à construção de Brasília. O autor destaca as críticas de Luís Saia e Max Bill, no ano de 1954, às soluções formais utilizadas na Pampulha e adotadas de maneira exaustiva em outros projetos. Na sequência, em uma revisão do próprio trabalho, Niemeyer demonstra seu interesse por uma nova estratégia de projeto, em busca de maior clareza e objetividade formal.

No “Depoimento” de 1958, Niemeyer afirma que Brasília e o projeto para o Museu de Caracas marcam o início de uma nova etapa profissional. Sua justificativa para as mudanças foi a viagem à Europa e o encontro com Le Corbusier. Ao reconhecer o desgaste de sua obra, o arquiteto busca um novo repertório formal no ateliê do seu mestre em Paris. Como consequência desse diálogo, Queiroz levanta a hipótese de que os estudos realizados por Le Corbusier para o Capitólio de Chandigarh influenciaram fortemente o projeto de Oscar Niemeyer para Brasília, sendo possível identificar nos palácios da capital federal as semelhanças e diferenças entre os dois projetos.

Ingrid Guerrero

O quarto e último ensaio, “O Espaço Sagrado em Oscar Niemeyer e alguns dos seus desdobramentos na América Latina”, de Ingrid Guerrero, trata primeiramente das poucas obras religiosas projetadas pelo arquiteto. Entre elas, a Igreja de São Francisco de Assis, que, embora rejeitada pelas autoridades religiosas de Minas Gerais, segue o simbolismo da arquitetura católica e a Catedral de Nossa Senhora Aparecida em Brasília, que se aproxima da arquitetura gótica. Na sequência, a autora discute os projetos realizados em países latinos, influenciados pelo desenho de Niemeyer, como o conjunto de igrejas projetado pelo colombiano Juvenal Moya, as releituras do espanhol Félix Candela no México e de Carlos Raúl Villanueva na Venezuela.

 

* Historiadora, designer de interiores e mestre em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. É autora do livro Casas Importadoras de Santos e seus Agentes, publicado pela Ateliê Editorial, em 2015.

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