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Amor, Luta e Luto

Por Renata de Albuquerque


Em Amor, Luta e Luto – No Tempo da Ditadura, Maria do Socorro Diógenes volta aos anos 1970 para relatar, denunciar e refletir sobre um período muito difícil: para ela, pessoalmente e para o país, como um todo. Em 1973, o jovem Ramires Maranhão do Valle, de apenas 23 anos, ex-companheiro da autora, foi morto no Rio de Janeiro. A partir disso, Maria do Socorro (que também foi presa e torturada) retrata as ações dos grupos revolucionários de oposição à ditadura, além de mostrar a difícil vida dos militantes na clandestinidade. Sobre esta luta por liberdade e democracia, contra a censura, a autora fala ao Blog Ateliê:


Por que decidiu, exatamente 40 anos após a morte de Ramires, escrever o livro? Como aconteceu essa decisão?
Maria do Socorro Diógenes:
O desejo de escrever essa passagem da minha vida já existia em mim há muitos anos, porém eu trabalhava muito e não tinha tempo de sentar e escrever. Esperei aposentar para ter tempo. Aposentei-me em 2012. Em 2013 comecei a escrever, pois a história já estava na minha cabeça. Então percebi que fazia exatamente 40 anos da morte do Ramires. Não foi uma decisão premeditada.

De alguma maneira o ambiente político do Brasil em 2013 teve impacto nessa decisão?
MSD
: Não, o livro já estava dentro de mim há muito tempo. 2013 foi apenas o ano em que me organizei para escrever.

Já na introdução do livro, a senhora cita as Comissões de Anistia, a Comissão dos Direitos Humanos e a Comissão da Verdade, iniciativas essenciais para esclarecer o que ocorreu durante a ditadura. De qualquer forma, alerta que as forças armadas não entregaram todos os documentos. De que maneira, em sua opinião, isso influenciou negativamente nos resultados dos esforços feitos pelas Comissões?

MSD: Afirmo que eles não entregaram todos os documentos porque até hoje as Forças Armadas não assumiram os assassinatos sob tortura e nunca esclareceram os desaparecimentos. Nunca deram satisfação às famílias sobre como eles (os perseguidos políticos) morreram, nem onde estão enterrados os desaparecidos. Ficou essa lacuna nos trabalhos da Comissão da Verdade.

Seu livro fala de amor e também é muito “musical”, no sentido de citar muitas canções no decorrer do texto. O amor e a cultura podem ser considerados formas de resistência naquele momento histórico? A senhora fazia esse tipo de reflexão naquele momento? E hoje, como vê essa questão? De todas as muitas passagens que a senhora relata no livro, qual é, na sua opinião, a mais marcante?
MSD
: A morte de Ramires é a passagem mais trágica, por ter sido tão trágica e por não ter sido esclarecida até hoje, além de ter sido a causa da morte de dona Agrícola (Doninha), sua mãe.

O Brasil de 2021 – mas já há alguns anos – sofre com fake news, polarização e um fortalecimento da extrema-direita que não pode ser desconsiderado. Em sua opinião, qual a relevância em lançar um livro, com um relato tão contundente como o seu, nesse contexto? O que as pessoas que desconhecem essa parte sombria da História do Brasil podem encontrar na leitura de sua obra?
MSD
: Nas palavras de Gabriel García Márquez, escritor colombiano, “contar para não esquecer”. Os revolucionários acrescentam: “para nunca mais acontecer”. O povo brasileiro não tem noção do que foi este período da História do Brasil. Não consta dos livros didáticos, a escolas não ensinam, há uma parcela da população que pensa que governo militar é bom. Neste momento em que vivemos, sob a perspectiva de um golpe militar, o livro poderá alertar para a realidade, para o verdadeiro significado de uma ditadura militar.

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