Retornando ao catálogo da Ateliê Editorial, em sua terceira edição, a clássica obra Um lance dados, de Stéphane Mallarmé. A edição bilíngue conta com a introdução, organização e tradução de Álvaro Faleiros. Além dos textos Traduzir Mallarmé é o Lance de Dados, de Marcos Siscar, e o prefácio da segunda edição Não houve naufrágio, de Sérgio Medeiros. A capa é da Casa Rex. O livro está em promoção durante a Festa do Livro da USP-Leste (o desconto será dado no carrinho de compras). Acesse aqui.
Dentre as diferentes formas de se pensar a literatura, é possível concebê-la, de acordo com André Lefevere, como um sistema de refrações, no qual distintos textos e poéticas são adaptados por e em um determinado sistema receptor. Esse sistema de refrações – que inclui interpretações, resumos, excertos, crítica e tradução – tem um papel fundamental na constituição e transformação da literatura. (Álvaro Faleiros).
O poema Un coup de dés (Um Lance de Dados), de Mallarmé, teve sua primeira publicação na revista Cosmopolis, em 1897. O poeta viria a morrer no ano seguinte, e o poema só veio a ter edição em livro postumamente, em 1914. Ao longo de todo o século XX, e agora seguindo pelo século XXI adentro, o Um Lance de Dados exerceu influência imensurável não apenas no campo da poesia, talvez de modo especial nas experimentações visuais, mas também no âmbito da própria crítica, para a qual constitui um desafio permanente. Mas seu impacto se fez sentir ainda mais amplamente, alcançando as artes plásticas e a música.
Paul Valéry, que deixou relato emocionado da leitura que Mallarmé lhe fez de seu poema e que foi dos primeiros a escrever sobre ele – o que fez, de resto, mais de uma vez – fala da impressão de, ao ver o Um Lance de Dados, estar a ver a “figura de um pensamento”; e resumiu a criação de Mallarmé na bela imagem de que este, com o projeto de Um Lance de Dados, havia tentado “elevar enfim uma página à potência do céu estrelado”.
A tradução de Álvaro Faleiros, trabalho acurado e competente, como exige a dificuldade do poema, propõe como primeira meta o acesso em português ao texto de Mallarmé – este é naturalmente o objetivo de uma tradução. Além disso, porém, estabelece profícuo diálogo com o universo dos trabalhos consagrados ao poema, em que se inclui de modo especial a tradução precedente, realizada por Haroldo de Campos na década de 1970, um marco na apresentação de Mallarmé aos leitores brasileiros.
Assim, a tradução realizada por Álvaro Faleiros implica (não apenas no texto em que comenta e esclarece seu trabalho, mas no próprio exercício de traduzir) uma bem-vinda e oportuna renovação e retomada da discussão sobre a constituição e as consequências desse poema, quando desse modo a atividade de tradução se revela também como leitura, interpretação, crítica, criação.
Stéphane Mallarmé, cujo verdadeiro nome era Étienne Mallarmé, (1842-1898) foi poeta e crítico literário francês. Autor de uma obra poética ambiciosa e difícil, Mallarmé promoveu uma renovação da poesia na segunda metade do século XIX, e sua influência ainda é sentida nos poetas contemporâneos. Mallarmé começou a publicar seus poemas na revista O Parnaso Contemporâneo (Le Parnasse contemporain), editada em Paris na década de 1860. Anos depois, Mallarmé conheceria os poetas Rimbaud e Paul Verlaine. Mallarmé se utilizava dos símbolos para expressar a verdade. Sua literatura se caracteriza pelo pensamento refinado e repleto de alusões que pode resultar em um texto às vezes obscuro.
Álvaro Faleiros é professor livre-docente de Literatura Francesa da USP e tem publicado artigos sobre tradução poética em revistas na França, no Canadá e no Brasil. É também poeta, compositor e tradutor. Pela Ateliê Editorial já publicou: Traduzir o Poema (2012); Caligramas, de Guillaume Apollinaire (Ateliê/UnB, 2007); Kalevala: Primeiro Poema (2009), com José Bizerril; Meio Mundo (poemas, 2007).