Por: Renata de Albuquerque
Na semana em que se comemora o Dia Internacional dos Museus, o Blog da Ateliê entrevista a arquiteta Beatriz Mugayar Kühl. Formada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo, com especialização e mestrado em preservação de bens culturais pela Katholieke Universiteit Leuven, na Bélgica, doutorado pela FAUUSP e pós-doutorado pela Università degli Studi di Roma “La Sapienza”, ela já publicou, entre outros, os livros Arquitetura do ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo (São Paulo, Ateliê/FAPESP/SEC, 1998), Preservação do patrimônio arquitetônico da industrialização (Ateliê/FAPESP, 2009). É responsável pela tradução e publicação de vários títulos da Coleção Artes&Ofícios da Ateliê.
Para suprir uma lacuna e atender um público que cresce e torna-se exigente a cada dia, a Coleção Artes&Ofícios traz importantes traduções de textos quase esquecidos a respeito do restauro de monumentos, de obras de arte e do próprio ofício, além de tratar da qualidade do trabalho de artistas de várias áreas.
“A coleção possui vários textos que oferecem fundamentação teórica para a atividade prática do conservador-restaurador, cujo papel nos museus é de essencial importância”, afirma a arquiteta, que é professora do Departamento de História da Arquitetura e Estética do Projeto e atualmente é chefe de Departamento (AUH-FAUUSP).
Como nasceu a Coleção Artes &Ofícios da Ateliê?
Beatriz Mugayar Kühl: A coleção nasceu a partir de uma conversa informal com o Plínio Martins Filho, em que comentei os problemas de se trabalhar com temas de restauração com os estudantes da graduação e da pós-graduação na FAUUSP (onde sou professora desde 1998), pela dificuldade de acesso a alguns dos textos fundamentais sobre o tema, seja por serem em língua estrangeira, ou por terem edições raras ou esgotadas. O problema era como discutir os fundamentos teóricos de uma disciplina sem que se tenha acesso aos textos que alicerçam o campo? Mencionei que havia feito uma tradução do Verbete Restauro do Viollet-le-Duc – para um curso da FUPAM em 1997 – em que havia sido assistente do saudoso Janjão (Antônio Luiz Dias de Andrade, professor da FAUUSP e arquiteto di IPHAN, falecido em 1997) – e perguntei se o Plínio acharia interessante publicá-la. Não só ele aprovou a idéia, como deu a sugestão de ampliar a coleção para temas ligados não apenas à preservação de bens culturais, mas também às artes e aos ofícios em geral. Desse modo, sempre que tomo conhecimento ou produzo algum texto que considero que possa ser interessante para a coleção, apresento à Ateliê, que tem mostrado sempre interesse em publicá-los. A finalidade da Coleção é justamente oferecer um acesso direto a textos basilares para campos disciplinares (como o restauro, história da arte etc.), pouco conhecidos ou de difícil acesso.
Como são escolhidos os títulos da Coleção? Quais são os critérios utilizados? Quais os temas mais recorrentes?
BMK: A coleção tem alternado volumes sobre preservação, de maneira mais ampla, e especificamente sobre restauração, com volumes que tratam das artes em geral. O interesse é voltado a textos com uma certa antiguidade que foram e ainda são de enorme importância em seus campos e que continuam a suscitar questões de extremo interesse. As publicações são fruto de pesquisas de professores universitários, em que determinados escritos emergem como importantes. Pelo fato de os pesquisadores utilizarem esses textos nas suas reflexões e considerá-los importantes também do ponto de vista didático e para difusão para um público mais amplo, acabam por considerar a publicação desses escritos como um produto importante de sua própria pesquisa.
Em sua opinião, qual a importância da coleção dentro do contexto acadêmico da arte no Brasil?
BMK: O interesse principal é divulgar textos importantes cujo acesso é difícil, seja pela barreira da língua, ou por ser textos raros, ou ainda por ser textos relevantes, mas ainda pouco difundidos em nosso meio, e que suscitam uma série de questões de interesse nos dias de hoje.
De que maneira estudantes, artistas e acadêmicos se beneficiam do conteúdo dos livros desta coleção?
BMK: Justamente pelo acesso direto a escritos relevantes para diversos campos disciplinares. A coleção alterna textos conhecidos, mas sem edição em português, com outros textos pouco conhecidos em nosso meio, mas que trazem questões relevantes para os dias de hoje.
Pensando no Dia Internacional dos Museus, qual a contribuição dos títulos da coleção para celebrar esta data?
BMK: A coleção possui vários textos que oferecem fundamentação teórica para a atividade prática do conservador-restaurador, cujo papel nos museus é de essencial importância. Traz ainda contribuições de interesse para a história da arte, outro campo intimamente relacionado com as atividades dos museus.
Já existe alguma definição de quais serão os próximos títulos ou autores dos lançamentos futuros da coleção?
BMK: O próximo título previsto – em fase de revisão de provas – é o texto de Quatremère de Quincy, Cartas a Miranda, originalmente publicado em 1796, em que o autor elabora de maneira original a intrínseca relação da obra com o contexto em que está inserida, e a importância capital desse contexto; problematiza a transferência de obras de arte a partir de sua visão de come se aprende o fazer artístico e a apreciar a produção artística; e oferece contribuições de grande interesse no que respeita à fundamentação teórica de questões de preservação.