Com a Palavra n.12 – Chico Buarque, 80 anos

Em comemoração aos 80 anos de Chico Buarque, a Ateliê Editorial publica as obras Chico Buarque ou a Poesia Resistente – Ensaios sobre as letras das canções recentes, de Adelia Bezerra de Meneses, e Chico Buarque – A Transgressão em Três Canções, de Eduardo Calbucci. As capas foram desenvolvidas e produzidas pela Casa Rex.
Os livros – em pré-venda no site da editora – destacam a inventividade do cantor e compositor, além da sua importância na cultura nacional em estudos que investigam as letras das canções nos segmentos da Linguística e na Literatura.
Em seu novo livro, Adelia analisa as recentes canções do cantor e compositor, como Que Tal um Samba?, As Caravanas, Massarandupió, Tua Cantiga, entre outras. Já na obra de Eduardo Calbucci, é apresentada uma análise semiótica, do viés francês, de três músicas de Chico Buarque: Mar e Lua, Não Sonho Mais e Uma Canção Desnaturada.
Os leitores do Com a Palavra conferiram com exclusividade dois textos presentes nas obras.
As Caravanas – Racismo e ‘Novo Racismo’
por Adelia Bezerra de Meneses
A canção As Caravanas, de Chico Buarque, do CD de mesmo
nome, lançado em 2017, vale por um tratado sobre a questão da escravatura, da exclusão social, do racismo e do “novo racismo”. Vou analisar a letra da canção como um poema, advertindo aos leitores que essa abordagem será sempre faltante, uma vez que letra e música formam um todo e que a melodia também é produtora de significado. Em todo o caso, sempre se pode fazer um apelo à memória musical do leitor […].
Aqui, no Brasil, o estranho não é de fora, mas de dentro – podendo ser o indígena ou o nordestino pobre nos grandes centros, mas, em As Caravanas, o foco da exclusão é fundamentalmente o afrodescendente. Há uma referência no verso 16 a “negros torsos nus”, que “deixam em polvorosa / A gente ordeira e virtuosa” – inicialmente seria interessante pensar em quais sentidos a gente virtuosa se deixaria ficar em polvorosa diante da nudez dos negros torsos.
‘Não Sonho Mais’: A Interpretação dos Sonhos – um Mistério Tensivo
por Eduardo Calbucci
Em 1979, Chico Buarque compôs duas canções para o filme República dos Assassinos, de Miguel Faria Jr.: Sob Medida e Não Sonho Mais. A primeira só foi gravada por Chico no CD Chico – Ao Vivo, em 1999, já a segunda fez parte do LP Vida, de 1980 […]
A indiferença em relação ao sofrimento do homem e a ideia de que o castigo era justo mostram que o plano do sonho configura o espaço da transgressão, em que a “cultura individual” [a certeza de que o homem merece o castigo] entra em conjunção com a “natureza social” [a ideia de que os castigos bárbaros não são aceitos pela sociedade]. A mulher deseja o que a sociedade proíbe. O sonho permite aquilo que a realidade coíbe. Assim, a euforia é projetada sobre um valor interdito ou não prescrito socialmente, o que, como já dissemos, é uma das maneiras de definir a transgressão.
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Com a Palavra n.11 – As Artes de Se Tocar Viola