Com a Palavra

Com a Palavra nº7: O poder familiar na política brasileira

A Ateliê Editorial acaba de lançar a obra Transmissão Familiar do Poder Político, da professora e pesquisadora Letícia Bicalho Canêdo, um estudo de fôlego que aponta como se desenvolvem (e permanecem) os sucessivos privilégios de certos núcleos familiares na esfera política do país.

A autora deu dois depoimentos para nosso site explicando como começou a se interessar pelo tema. E agora, com exclusividade, os leitores da newsletter Com a Palavra podem conferir um trecho do livro. Boa leitura!

Transmissão de Poder e Enquadramento Moral em ‘Grandes Famílias’

O investimento social e político efetuado por meio dos casamentos era o que atava os herdeiros nos laços familiares e garantia a presença de pais, filhos, maridos, sobrinhos e primos nos altos cargos políticos como eleitos, ou como técnicos na administração pública. A competência parlamentar era adquirida muito cedo junto aos gabinetes de deputados (condução dos procedimentos, conhecimento dos regulamentos etc.); obtinham as demais práticas nos gabinetes de secretários estaduais, nas antessalas do governo do Estado, nas dos ministérios e da presidência da República, nos cargos de confiança dentro das agências estatais. Dessa maneira as grandes famílias asseguravam o controle dos cargos e dos organismos administrativos federais, estaduais e municipais, confirmando sua posição de mediadoras entre os órgãos das administrações e os eleitores, perpetuando as relações de clientela pela distribuição, ou promessa de distribuição, de bens públicos aos eleitores, tanto no que concerne a empregos, favores, postos administrativos, encaminhamentos para médicos etc., quanto a políticas públicas.

Por meio da gestão familiar da escola, os conhecimentos necessários para os diversos momentos da vida política e social eram reunidos dentro do grupo e, ao mesmo tempo, reagrupados dentro das agências de governo. Os diplomas das Faculdades de Direito e das Faculdades de Engenharia, por exemplo, forneceram a estes grupos familiares o núcleo hegemônico dos conhecimentos e habilidades necessárias ao Estado durante o período desenvolvimentista. Ao mesmo tempo, as escolas superiores eram os locais onde os parentes distantes se reconheciam e mantinham relações voltadas para a expansão do poder da parentela.

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