Por: Renata de Albuquerque
A seguir, o poeta, escritor e crítico de arte Aguinaldo José Gonçalves, autor, entre outros, de Nove Degraus Para o Esquecimento, fala sobre seu próximo livro, Crespos Jardins, que em breve será lançado pela Ateliê Editoral:
Qual a inspiração para o título Crespos Jardins?
Aguinaldo José Gonçalves: O título Crespos Jardins se deve a uma determinação do imaginário poético. O livro é dividido em quatro partes por meio de quatro jardins metafóricos, cada um deles representando uma temática e um estilo próprios. “Crespos” significam obstáculos retóricos do processo de criação.
De que maneira sua experiência como crítico de arte e teórico de literatura deixa marcas em sua produção poética?
AJG: As marcas são deixadas de maneira inconsciente e natural, revelando uma consciência de linguagem fundida ao processo inventivo da poesia.
Já na orelha do livro, três autores são citados como referências em sua obra: Whitman, Stein e Proust. De que maneira o senhor acredita que eles estão presentes neste Crespos Jardins?
AJG: Os três autores (Walt Whitman, Gertrude Stein e Marcel Proust) aparecem com relevância fundamental no livro, com cada um deles representando o seu pensamento poético/literário na modernidade. Eles ilustram os “Jardins” do livro e conferem o peso de seu estilo na formação do poeta.
Além dos escritores, há referências ao cinema na sua obra (por exemplo, O Sétimo Selo). Como as artes se entrelaçam em sua poesia?
AJG: Na verdade sou especialista nos estudos homológicos entre literatura e outros sistemas, e tenho várias obras nessa área. É inevitável que as marcas da pintura, do cinema ou da escultura não se manifestem na minha poesia. Além disso, o signo poético de Aguinaldo Gonçalves transcende os limites do signo verbal, elevando sua natureza à categoria de ícone. Assim, realizo uma poesia auditiva, mas sobretudo visual.
O livro é dividido em quatro jardins: da resistência, da imemorialidade, do espaço oracular das artes e do olhar eclipsado. Como foi pensada essa divisão e selecionados os poemas que compõem cada jardim?
AJG: A resposta anterior auxilia na compreensão dessas quatro divisões. Há de se notar que um eixo paradigmático é o ponto para onde convergem todos os poemas do livro. Mediante cada uma das quatro esferas e pelo grau de sua complexidade, não é possível resumir a divisão temática das partes, mas o teor temático de cada uma delas é sorrateiramente inscrito em cada um dos títulos.
Em “eu canto neste jardim de resistência”, pode-se ler: “arrasto meu corpo inteiro nesse terreno cercado de arame farpado, sem corredores mas com ruínas e ruínas das quais é possível extrair muita coisa”. Toda ruína pode ser profícua?
AJG: A questão levantada é muito boa, para não dizer uma das melhores que se poderia fazer sobre Crespos Jardins; entretanto impossível responder a ela neste pequeno espaço. Mas é tempo de dizer que a metáfora do arame farpado e do corpo que se arrasta são ambas determinantes para a compreensão da gênese deste livro que se realiza substancialmente pela RUÍNA, concepção básica da alegoria moderna, proposta por Walter Benjamin.
Há um poema dedicado a João Alexandre Barbosa. Qual sua relação com este grande ensaísta e crítico literário?
AJG: Professor João Alexandre Barbosa foi meu orientador de mestrado e de doutorado na USP. Além disso, tenho por ele grande admiração pelo que desenvolveu na crítica brasileira.
O que seus leitores, que já conhecem obras como Nove Degraus para o Esquecimento e Vermelho, por exemplo, podem esperar deste Crespos Jardins?
AJG: O leitor pode esperar a surpresa e o desatino que uma poesia original sempre provoca.