A Ateliê Editorial e a Editora Mnêma em parceria com o LATHIMM (Laboratório de Teoria e História das Mídias Medievais), realizam, no dia 29 de março, terça-feira, às 14h (horário de Brasília), pelo canal no Youtube do LATHIMM, a live de lançamento da obra Em Busca do Paraíso Perdido: As Utopias Medievais, do premiado historiador Hilário Franco Júnior. Além do autor, participam do encontro virtual Eduardo Henrik Aubert, Maria Cristina Pereira, Gabriel Castanho e Wanesa Asfora Nadler. Adquira o livro no site da Ateliê Editorial (CLIQUE AQUI).
SOBRE A OBRA
Desde meados do século passado ampliaram-se muitos nossos conhecimentos sobre a Idade Média, na qual se reconhece a matriz da civilização ocidental cristã. Mas ainda subsistem múltiplas facetas interessantes a explorar, uma delas a produção utópica da época, que a historiografia tende a negar.
De um lado, argumenta-se não ser possível falar em utopia antes de Tomás More ter criado a palavra, no começo do século XVI. De outro lado, afirma-se que as pessoas da Idade Média pensavam demais na perfeição do Além para poderem imaginar uma sociedade perfeita nesta vida.
O livro mostra, contudo, com refinamento conceitual e erudição, que houve várias utopias na Idade Média, cuja compreensão ajuda a lançar luz sobre não poucos aspectos do Ocidente atual.
HILÁRIO FRANCO JÚNIOR é professor de pós-graduação de história social na Universidade de São Paulo. Obteve o pós-doutorado em história medieval na École des Hautes Études en Sciences Sociales, na França. Recebeu dois prêmios Jabuti. Tem diversos livros publicados, sempre focando temas medievais. Publicou pela Ateliê Dante – O Poeta do Absoluto e Cocanha – Várias Faces de uma Utopia.
O LATHIMM
O LATHIMM (Laboratório de Teoria e História das Mídias Medievais) tem por objetivo principal promover o diálogo constante entre a reflexão teórica e a práxis historiográfica no campo específico das mídias medievais. O pressuposto definidor desse trabalho é o de que não há nem independência nem prioridade entre as instâncias teórica e histórica. Ao contrário, diante do perigo da alienação mútua, como lembra Georges Didi-Huberman, “a prática salutar [é]: dialetizar”.
Para encaminhar esse questionamento, o LATHIMM agrega pesquisadores em diferentes níveis de formação e de distintas áreas do conhecimento, em torno de quatro linhas de pesquisa: “Retoricidade: a linguagem como fato social”; “A imagem medieval: ornamento, materialidade, permanências”; “A música medieval: análise, liturgia, notações”; “Códices medievais e renascentistas e a produção científica do conhecimento sobre a natureza”.
Assim, o LATHIMM concentra suas pesquisas em dois focos principais: o estudo da cultura material (traçada nas imagens, na música e na escrita) e o estudo das ferramentas teóricas mais adequadas para o trabalho com tais documentos históricos, tendo como campo primordial de observação o Ocidente medieval.
Leia abaixo um trecho da obra:
MEMÓRIA DO PARAÍSO
Se utopia – retomando nossa tentativa de definição no âmbito da cultura cristã medieval – é relato (o mito edênico) textual ou iconográfico sobre uma sociedade ideal (a adâmica antes da Falta) colocada num espaço (o jardim criado por Deus) e num tempo (o sexto dia da criação do mundo) imaginários, sociedade que se recuperada superaria as limitações e dificuldades do presente histórico (a Europa ocidental entre fins do século III e meados do XVII), a questão que evidentemente emerge é: como tal sonho coletivo pôde manter-se vivo e atuante socialmente durante tantos séculos e em tão variados territórios? A resposta obriga-nos a introduzir um último elemento conceitual, o de memória coletiva.
A avaliação do senso comum pela qual utopia é produto de mentes inquietas e imaginativas deve ser revista, atentando-se inicialmente para o fato óbvio, nem sempre devidamente considerado, de a imaginação não ser processo psíquico completamente autônomo. Ninguém imagina a partir do nada, e sim de determinados enquadramentos. A atual psicologia cognitiva ao estudar a memória de longo prazo demonstrou que ela não é conservação passiva do passado, e sim reconstrução ativa que ocorre num palco bem mais amplo do que apenas o do sujeito que rememora, razão pela qual a memória, além de biológica e pessoal, é também social e coletiva. Daí na dinâmica da imaginação o papel essencial desempenhado pela memoria, que de certa maneira articula todos os elementos da história social.