Ateliê Editorial | Assessoria de Imprensa
No último dia 7 de maio, o professor, escritor e jornalista Waldecy Tenório lançou seu novo livro Escritores, Gatos e Teologia. Nesta obra o autor continua com o tema já abordado em seu primeiro livro pela Ateliê – A Bailadora Andaluza –, que é aproximar Literatura e Teologia.
O lançamento foi na Livraria da Vila da rua Fradique Coutinho e teve a participação de muitos amigos e colegas. Durante o evento, Luciana Frateschi leu trechos da obra, e Luciana Celo cantou poemas musicados de Drummond, Cecília Meireles, Adélia Prado e outros, acompanhada pelo violão de Raphael Gemal.
Segue entrevista com o autor.
Ateliê – Em seu outro livro, A Bailadora Andaluza (Ateliê, 1996), já aparece a ideia do Sagrado e a relação entre Teologia e Literatura. Naquele caso, sua tese é demonstrada pela poesia de João Cabral de Melo Neto. Em Escritores, Gatos e Teologia sua tese é ampliada para outros autores. Como se deu aquela, e esta investigação? Deu trabalho aproximar literatura e teologia?
Waldecy Tenório – Você observou bem: a ideia do Sagrado e a relação entre literatura e teologia são temas centrais nesses dois livros, temas quase obsessivos que aparecem também em outros escritos meus. A experiência de ver esses temas na poesia de João Cabral foi uma verdadeira educação pela pedra. Diziam: João Cabral é ateu, não tem transcendência, não tem alma e tal… Ele mesmo alimentava isso e isso, por sua vez, alimentava minha pesquisa. Diziam: João Cabral é ateu. Sim, e daí? Deus também tem seu momento de ateísmo como nos lembra Chesterton. Mas ainda que João Cabral fosse simplistamente ateu, e não era. Uma coisa é o João Cabral empírico, outra coisa é a sua poesia. E essa poesia, como resumi-la? Como a procura do “fino instante exato” em que o peixe (símbolo de Cristo ou da transcendência?) se pesque. O ponto de apoio era então a poesia de João Cabral. Já em Escritores, Gatos e Teologia a pesquisa se abre para outros autores, quase todos também ateus, como esse extraordinário ateu que é Samuel Beckett, o tempo todo esperando Godot. Aqui entramos em contato com muitos autores e personagens como Virgílio e Dante, Dostoiévski e o Grande Inquisidor, Madame Bovary e Thèrese de Lisieux, Proust e Manuel Bandeira, Joyce e Santo Agostinho, Adélia Prado e Hilda Hilst, Riobaldo e o interlocutor cruel que o atormenta, Teilhard de Chardin e Saint-Exupéry, Drummond e Guimarães Rosa, os vagabundos de Beckett e aquela mulher de Sevilha dos poemas de João Cabral. E todos eles, ateus ou não, com suas perguntas pelo sentido nos encaminham para a teologia. O problema nisso tudo foi mesmo o computador, que muitas vezes apagava o que eu escrevia, como uma atualização da ideia do inferno. Mas como quem pesquisa está sempre procurando a si mesmo, até o computador se tira de letra.
Ateliê – Fale um pouco de sua experiência como professor de literatura, lecionando introdução ao pensamento teológico.
Waldecy Tenório – Como no poema Morte e Vida Severina, eu procurava corromper com sangue novo a anemia religiosa que infectava muitos dos alunos. Às vezes dava certo, às vezes não. Era preciso cumprir programas e aquilo tomava muito tempo. Caia-se numa rotina desesperante e infelizmente era quase isso que se esperava. Eppur si mouve… Ainda bem, e quando se movia e dava certo, quando a bailadora ouvia a voz que lhe falava do fundo do tablado ou de sua própria vida, era sempre um deslumbramento. Um sorriso abria-se na face de cada um. Nós nos sentíamos conectados a uma internet diferente, e tome Drummond e Guimarães Rosa, João Cabral e Manuel Bandeira, poetas e escritores misturados com teólogos. Por um momento esquecíamos a vida que passa na televisão e ela se abria para outros sóis e outras verdades, a literatura mostrava a raiz teológica dos problemas humanos, e tudo era dádiva, e respirávamos outros ares e o mundo era uma diafania.
Ateliê – Como jornalista, o senhor foi colaborador de algumas revistas da Abril; editor do jornal O São Paulo, da arquidiocese de São Paulo; trabalhou em diversas editorias de O Estado de S. Paulo e encerrou sua carreira como um dos editores do suplemento “Cultura” deste jornal. Como o senhor vê a crítica literária feita atualmente pela imprensa brasileira?
Waldecy Tenório – Quase não vejo. E não digo isso como reparo aos poucos que ainda se ocupam de livros nas colunas dos jornais. Digo isso como um lamento por quase não termos mais espaço para isso, quase todo destinado aos assuntos que mais atraem os leitores. O “Cultura”, sucessor do famoso “Suplemento Literário” , abria-se para a crítica brasileira e estrangeira, era um espaço de debate de grandes temas. Não vejo hoje muito espaço nos jornais para isso. Mas se abrirem esse espaço…
Ateliê – O senhor assessorou o educador Paulo Freire na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo. Como foi aquela experiência? Foi possível colocar em prática na rede municipal de ensino ideias pedagógicas tão reprimidas durante a ditadura militar?
Waldecy Tenório – Como um dos assessores, eu tinha uma função discreta que me agradava muito. Paulo Freire me encarregava de ler determinados livros e, em algumas tardes, fazíamos uma espécie de seminário particular sobre os temas que eles abordavam. Isso nos aproximou e ele me deu um livro com a dedicatória: “Como se fôssemos velhos amigos”. O fato é que esses “seminários” alimentavam os debates que fermentavam a vida intelectual dos professores da rede. E claro que sempre surgiam resistências…
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Veja abaixo algumas fotos do lançamento.