Morre o professor Ivan Teixeira, da ECA, autor de Mecenato Pombalino e O Altar & o Trono
Jornal da USP | 18 a 24 de fevereiro de 2013
Muito se fala e se teoriza acerca das qualidades que constituem um bom professor. Seu conhecimento específico, sua didática, sua visão de mundo, sua cultura ampla. Esses são ingredientes que, sem dúvida, moldam o bom mestre. Mas há uma, acima de todas essas, que melhor caracteriza aquela pessoa que dedica (ou dedicou) sua vida a ensinar: a generosidade. E é justamente essa – conjuminada a todas as outras – que melhor pode definir a carreira docente de Ivan Teixeira, que morreu no último dia 31 de Janeiro, aos 62 anos.
Professor de Cultura e Literatura Brasileira do Departamento de Jornalismo e Editoração (CJE) da Escola de Comunicações e Artes da USP e professor aposentado da Universidade do Texas em Austin – onde lecionou por mais de quatro anos -, além de ter sido, por um longo período, professor de cursinho – aquela arena onde um professor se vê cercado muitas vezes por mais de uma centena de alunos ávidos por aprender rápido aquilo que os levará à universidade -, Ivan cativava seus alunos exatamente por ser, ao mesmo tempo, generoso e exigente, culto e afável. Como bem definiu o poeta e também professor Frederico Barbosa, ele era um “entusiasmado pelo ensino, fez várias gerações de estudantes se aproximarem da literatura e sempre dividiu com generosidade e alegria seu vasto conhecimento”.
Esse “vasto conhecimento” ao qual se refere Barbosa se baseava, principalmente, no muito que ele sabia e conhecia de literatura brasileira. E que ele deixou para a posteridade na forma dos 14 livros que prefaciou, organizou e anotou. São obras fundamentais, como a edição fac-similar de Música do Parnaso, de Manuel Botelho de Oliveira; Poesias, de Olavo Bilac; Obras Poéticas, de Basílio da Gama. Além deles, Ivan Teixeira escreveu pelo menos duas obras essenciais para a cultura e a literatura nacionais: Mecenato Pombalino e Poesia Neoclássica (Edusp/Fapesp, 1999), que recebeu, na categoria ensaio, o Lasa Book Prize (Estados Unidos) e o Prêmio Jabuti, em 2000; e O Altar & o Trono: Dinâmica do Poder em O Alienista (Ateliê/Unicamp, 2010), que ganhou o Prêmio José Ermírio de Moraes, da Academia Brasileira de Letras (ABL), em 2011.
Quem foi seu aluno vai sentir falta da troca sempre profícua, da didática apurada, da palavra bem medida, da erudição sem pedantismo. Quem privou de sua amizade está agora órfão da fala mansa e tranquila, do uso de diminutivos como forma de tratamento para pessoas mais próximas, das histórias e anedotas contadas com sabor e arte, do companheiro acima de tudo. Ficam sua memória e seus livros, a extensão de sua voz e conhecimento.