Ateliê Editorial publica A Vida Literária no Brasil Colônia, de Ubiratan Machado. O prefácio é do professor e poeta Alexei Bueno.
O título deste livro singular promete muito menos do que oferece. O estudo d’A Vida Literária no Brasil Colônia é também chave-mestra para descerrar alguns dos aspectos mais contraditórios da formação brasileira, o nascimento da sociabilidade, o desabrochar da civilidade, a germinação do nativismo, primeiro grito de amor do homem à terra. Num estilo leve e envolvente, o autor acompanha os três primeiros séculos de nossa formação histórica através da gestação e afirmação da vida literária em um país áspero, bruto, sem autoestima e sem identidade, apoiado no escravismo e de analfabetismo opressor.
O processo se inicia sob a batuta dos jesuítas, com seus colégios, elaborando o primeiro projeto educativo do país e implantando e lapidando hábitos e procedimentos pioneiros de vida literária até o surgimento das academias, no século XVIII, nas quais se imitava descaradamente padrões culturais europeus.
Nesta trajetória foram fundamentais o surgimento das bibliotecas, públicas e particulares, as declamações, as encenações teatrais, o debate ao vivo sobre temas literários e (mais tarde e em sigilo) políticos, os saraus literários domésticos e em palácios, os intelectuais da terra confraternizando com os governantes, e desenvolvendo uma cordialidade de salão, que se derramava por toda a sociedade culta. E, enredada a ela, os primeiros sonhos de independência. Sem ninguém perceber, começava a palpitar uma nação chamada Brasil.
Obra de erudição, rigorosamente documentada, mas que se lê, no entanto, com o prazer com que se leria a mais amena narrativa ficcional, graças à invariável qualidade da prosa do autor, que sempre possuiu essa qualidade máxima que é enredar o leitor no que há de fascinante no tema tratado, A Vida Literária no Brasil Colônia é mais um título insubstituível na bibliografia já vasta e sem paralelo desse grande amante das letras e dos livros que sempre foi Ubiratan Machado (Alexei Bueno)
Ubiratan Machado é carioca e jornalista aposentado, autor de dezesseis livros, entre os quais Os Intelectuais e o Espiritismo, A Vida Literária no Brasil Durante o Romantismo, A Etiqueta de Livros no Brasil, Machado de Assis, Roteiro da Consagração e o recém-lançado Dicionário de Machado de Assis. Pela Ateliê Editorial, publicou Pequeno Guia Histórico das Livrarias Brasileiras, Três Vezes Machado de Assis e A Capa do Livro Brasileiro.
LEIA UM TRECHO DA OBRA:
CAPÍTULO: RÉQUIEM POR UMA GERAÇÃO
Com a punição aos poetas envolvidos na Inconfidência Mineira desaparecera a mais brilhante geração de escritores até então surgida no Brasil. A vida literária na capitania se dissolve como uma miragem. O clima trágico pesa sobre todos e dura longos anos. Após o duro processo e as punições, os ressentimentos estão vivos demais. A capitania de Minas regride. A Vila Rica de Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga, Alvarenga Peixoto e os entusiasmados poetas menores é apenas uma lembrança do passado. Uma trágica lembrança, mas também o testemunho de sonhos, esperanças humanas e nobres ideais político, cujas sementes implantaram em terras brasileiras. Nem tudo se pede no vendaval do tempo.