A Ateliê Editorial realiza o lançamento da obra Modos de Morar nos Apartamentos Duplex, de Sabrina Studart Fontenele Costa, na quarta-feira, 16 de dezembro, às 18h, na Livraria Martins Fontes Paulista (Espaço Vitrine Paulista, Avenida Paulista, 509). Projeto Gráfico e Editoração por Gustavo Piqueira – Casa Rex. O livro está à venda no site da Ateliê Editorial. Leia abaixo um trecho do livro:
A MULHER MODERNA NO BRASIL: A CONQUISTA DO ESPAÇO PÚBLICO (p. 193)
Como já apontado por diversos estudiosos da cidade, São Paulo passou por um intenso processo de urbanização nas primeiras décadas do século XX, possibilitada especialmente pelo forte crescimento econômico relacionado com a produção de café e com o início da industrialização.
[…]
A agitação da região central atraiu investidores para os poucos terrenos vazios disponíveis e para a realização de novos empreendimentos imobiliários. Foi um período em que as antigas casas e chácaras existentes na região foram substituídas por novos arranha-céus, responsáveis por romper a escala da cidade e apresentar propostas espaciais modernas.
[…]
Uma das características mais marcantes daquele momento foi a presença feminina no espaço público, percebida nas diversas fotografias que registravam as multidões circulando pelas ruas da cidade, especialmente na região central. Diversas autoras apontam que, naquela época, as mulheres das camadas médias e altas começaram a frequentar as ruas; atividade restrita até então às operárias que precisavam se deslocar para as fábricas ou às mulheres que tinham empregos informais, como empregadas domésticas, lavadeiras, doceiras, floristas, artistas ou meretrizes.
Maria Odila Leite da Silva Dias esclarece que muitas dessas mulheres não tiveram suas histórias contadas, são as “mulheres sem histórias” – título de um texto clássico da autora. Ela conta que:
A urbanização incipiente da cidade São Paulo, a partir do último quartel do século XVIII até as vésperas da abolição, envolvia uma população majoritariamente feminina e, no entanto, poucas mulheres aparecem nas histórias da cidade.
Eram mulheres pobres, livres, forras, escravas que se utilizavam do espaço público como palco de improvisações de sua sobrevivência precária. Apesar do aumento significativo de pesquisas e publicações sobre mulheres e arquitetura, desde a publicação do artigo supracitado, há mais de três décadas, ainda é possível verificar um vazio a ser preenchido sobre ensinos que envolvam a presença da mulher na cidade, especialmente das de classe mais baixa.
A OBRA
O livro surgiu por meio de uma pesquisa de pós-doutorado desenvolvida no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, contando com o apoio da Fapesp. A casa, objeto de atenção especial para os arquitetos modernos, foi uma preocupação teórica e concreta nas tentativas de mudar os modos de vida das populações urbanas. Contudo, uma pergunta nos ronda com frequência ao observar as propostas pela habitação da primeira metade do século XX: poderiam casas modernas tornarem-se lares modernos? Se esta pergunta parte da análise dos projetos e dos espaços construídos, uma outra trata da apropriação, usos e práticas domésticas ao longo dos ano: que transformações foram realizadas para adaptá-las às novas vivências do século XXI?
A proposta do livro, em quase 300 páginas e com uma leitura fluida e instigante, é sobre a discussão que tem ganhado força nos últimos anos na área, como a arquitetura, gênero e domesticidade. Um tema também bastante importante é sobre a preservação dos apartamentos e seus cômodos. Um último destaque da obra é a apresentação das plantas e fotografias dos conjuntos e habitações estudadas pela autora. Modos de Morar nos Apartamentos Duplex – Rastros de Modernidade é um livro indispensável para examinar, conhecer e compreender uma parte fundamental da Arquitetura.
A AUTORA
Sabrina Studart Fontenele Costa é arquiteta e urbanista, com mestrado e doutorado pela FAU-USP. Finalizou em 2019 a pesquisa de pós-doc no IFCH-Unicamp com apoio da Fapesp. Autora dos livros Edifícios Modernos e o Traçado Urbano no Centro de São Paulo (2015) e Restauro da Faculdade de Medicina da USP: Estudos, Projetos e Resultados (2013). Professora na Escola da Cidade, Diretora de Cultura do IAB-SP (2020-2022), onde também é curadora residente da 13a. Bienal de Arquitetura de São Paulo.