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Leia um trecho do texto ‘A Tradução de Um Lance de Dados’, escrito por Álvaro Faleiros, presente na obra de Stéphane Mallarmé

Retornando ao catálogo da Ateliê Editorial, em sua terceira edição, a clássica obra Um lance dados, de Stéphane Mallarmé. A edição bilíngue conta com a introdução, organização e tradução de Álvaro Faleiros. A capa é da Casa Rex. O livro já está à venda no site da Ateliê Editorial. Acesse aqui.

Leia abaixo um trecho do texto A Tradução de Um Lance de Dados, escrito por Álvaro Faleiros, presente na obra.

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Haroldo de Campos, vinte anos depois da primeira publicação de sua tradução de Um Lance de Dados, resume a cinco os critérios que adotou:

  1. O nível gráfico.
  2. O grafo numerológico.
  3. A retomada etimológica.
  4. A macrossintaxe.
  5. As correspondências semântico-visuais

O nível gráfico, no caso de um poema como Um Lance de Dados, é evidente, uma vez que Mallarmé14 explicita, já no início do prefácio ao poema, que a disposição das palavras introduz como novidade o “espaçamento da leitura. Os ‘brancos’, com efeito, assumem importância, chocam de início” e, mais adiante, informa: “A diferença dos caracteres tipográficos entre o motivo preponderante, um secundário e adjacentes, dita sua importância na emissão oral e a disposição na pauta, média, no alto, embaixo da página, notará o subir ou o descer da entonação”. Desse modo, tanto a disposição espacial das palavras quanto os tamanhos e formas dos tipos gráficos são centrais no modo de significar do poema e devem, portanto, assumir configuração homóloga numa tradução que se queira poética. Este primeiro critério é, pois, pouco polêmico ainda que exija do tradutor e do editor enorme atenção.

Pode-se também notar que, ao referir-se à diferença dos caracteres como indicação da existência de um motivo preponderante, um secundário e adjacentes, Mallarmé assinala a existência de uma macrossintaxe. Ciente dela, Haroldo de Campos propõe uma excelente solução para a dupla negação do francês existente no motivo preponderante: “un coup de dés / jamais / n’abolira / le hasard”. Como esse motivo encontra-se disperso ao longo do poema, Haroldo o traduz da seguinte maneira: “um lance de dados / jamais / jamais abolirá / o acaso”. A repetição do advérbio de negação evita a introdução de um contrassenso no poema.

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Stéphane Mallarmé, cujo verdadeiro nome era Étienne Mallarmé, (1842-1898) foi poeta e crítico literário francês. Autor de uma obra poética ambiciosa e difícil, Mallarmé promoveu uma renovação da poesia na segunda metade do século XIX, e sua influência ainda é sentida nos poetas contemporâneos. Mallarmé começou a publicar seus poemas na revista O Parnaso Contemporâneo (Le Parnasse contemporain), editada em Paris na década de 1860. Anos depois, Mallarmé conheceria os poetas Rimbaud e Paul Verlaine. Mallarmé se utilizava dos símbolos para expressar a verdade. Sua literatura se caracteriza pelo pensamento refinado e repleto de alusões que pode resultar em um texto às vezes obscuro. 

Álvaro Faleiros é professor livre-docente de Literatura Francesa da USP e tem publicado artigos sobre tradução poética em revistas na França, no Canadá e no Brasil. É também poeta, compositor e tradutor. Pela Ateliê Editorial já publicou: Traduzir o Poema (2012); Caligramas, de Guillaume Apollinaire (Ateliê/UnB, 2007); Kalevala: Primeiro Poema (2009), com José Bizerril; Meio Mundo (poemas, 2007).

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