Por: Renata de Albuquerque
Não é novidade, todo mundo sabe, mas nem todo mundo põe em prática: ler precisa ser coisa de criança, porque a leitura é um hábito que, quanto mais cedo se adquire, mais e melhor será cultivado ao logo da vida.
Ler é a porta de entrada não apenas para ter acesso a conhecimento e a informações, mas para poder interpretar o mundo, desenvolver senso crítico, tornar-se um cidadão mais consciente e ter a mente aberta às novidades e inovações do mundo.
Acontece que, como tudo na vida de uma criança, ler não pode ser obrigação, para que o hábito da leitura não fique associado a algo chato ou enfadonho. Ler tem que ser prazeroso, tem que ter muito mais a ver com brincar do que com estudar.
Um exemplo de que essa preocupação não é nova são os dois volumes de Contos da Nova Cartilha, uma reunião de contos, fábulas e histórias reais que Liev Tolstói usava na escola rural que ele fundou, voltada para a criatividade das crianças, ainda no século XIX.
Hoje em dia, dar livros para bebês, para que eles não apenas os manuseiem, mas para que sirvam de “brinquedo” na hora do banho é tão importante quanto ler para os pequenos, para que eles se acostumem ao “ritual” da leitura e à maneira como essa atividade acontece, para que ela se torne natural.
Opções não faltam. Desde clássicos títulos infantis até a releituras, como Fábulas para o Ano 2000, há muitas alternativas para entreter os pequenos.
E os adultos não devem ser exemplos apenas atuando diretamente. Ler na frente das crianças (e não necessariamente para elas) também é importante. Mostrar que ler é uma forma de se divertir, de relaxar e que isso traz prazer é uma maneira de incentivar a leitura também. Afinal, muitas vezes, a criança imita o adulto, porque se espelha nele, porque o admira e admira tudo o que ele faz.
Crianças são muito engajadas. Quando elas tomam gosto por alguma atividade, empenham-se muito. Há até mesmo casos em que as crianças se tornam escritoras! Gustavo Bolognani Martins tinha apenas 13 anos quando escreveu A Arca de Noésio, uma releitura do tema bíblico da salvação dos animais que rendeu ao jovem autor o Prêmio Medalha Monteiro Lobato.
Para estimular a criança a formar sua própria biblioteca, existem atualmente algumas iniciativas que funcionam como “clube do livro”. Leiturinha e A Taba são dois exemplos de clubes com assinatura mensal que entregam em casa livros adequados a cada faixa etária, acompanhados de “guias” que auxiliam os pais a encaminhar as crianças na aventura de ler.
Mas, para ter livros, nem é preciso gastar. “A Menina que Doa Livros”, por exemplo, distribui livros gratuitamente no Minhocão (na capital paulista). A iniciativa é de Giovanna, de apenas 9 anos, e a página do Facebook já tem mais de 6 mil curtidas.
Já a AEL – Academia Estudantil de Letras – é uma iniciativa da rede pública de São Paulo que, em uma década de existência, estimula os alunos a escolher um autor da literatura brasileira sobre o qual realizam pesquisas e apresentam seminários. A AEL também promove visitas de autores às crianças nas escolas, enriquecendo a experiência da leitura.
As editoras também investem na formação de leitores. Existem várias coleções cujo objetivo é apresentar os clássicos em versões mais simples e ilustradas com o objetivo de facilitar o primeiro contato dos jovens leitores com os grandes textos da literatura universal. A série “Reencontro Literatura”, por exemplo, é uma das mais antigas do catálogo da Scipione e traz aos jovens textos adaptados por grandes escritores brasileiros, como Rubem Braga, Ana Maria Machado e Tatiana Belinky.
E até quem já está na idade de prestar vestibular pode descobrir prazer na leitura dos “livros obrigatórios”. Se a leitura é obrigatória, afinal, porque não tentar tirar dela algo de bom? Especialmente para quem está no Ensino Fundamental II, Ensino Médio ou se preparando para o vestibular, a Coleção Clássicos Ateliê traz aos leitores o texto completo de alguns dos títulos mais importantes da Literatura, acompanhado por apresentações escritas por alguns dos mais renomados pesquisadores. Além disso, todos os títulos da coleção trazem notas explicativas que ajudam a contextualizar a obra, para que o leitor possa compreendê-la melhor, não só dentro da realidade em que foi escrita, mas também sua relevância no mundo atual. Por exemplo, a edição de Dom Casmurro, de Machado de Assis, ganhou apresentação de Paulo Franchetti e notas e comentários de Leila Guenther. Já O Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, tem prefácio e notas de Ivan Teixeira.
Assim, desde o berço até a faculdade, onde quer que se inicie a aventura da leitura, é possível facilitá-la e, mais que isso, torná-la um grande prazer.