A designer gráfica Tereza Bettinardi sempre teve o hábito de ler muitos livros sobre design e de fazer indicações aos amigos e amigas, inclusive pelas redes sociais. Quando começou a quarentena, ela percebeu que o mercado editorial estava sofrendo muito os impactos do distanciamento social e também que “era muito difícil ler livros de ficção”. Foi então que teve uma ideia: criar um clube do livro no qual as pessoas pudessem discutir virtualmente livros sobre design. Assim nasceu o “Clube do Livro do Design”, que tem uma lista de leitura que inclui dois títulos da Ateliê Editorial: Morte aos Papagaios e A Forma do Livro. Leia a seguir a entrevista que Tereza concedeu ao Blog da Ateliê:
Como foi a decisão de criar clubes de leitura?
Tereza Bettinardi: Sempre compartilhei livros de design que estava lendo pelos stories do instagram e muita gente me escrevia pedindo dicas de leitura. Quando entramos todos de quarentena, percebi duas coisas: que era muito difícil ler livros de ficção [simplesmente não conseguia me concentrar] e que um setor muito importante de atuação do meu estúdio – trabalho basicamente com design editorial, capas e livros – estava sentindo os efeitos da crise. Nesse meio tempo, fui convidada para gravar um vídeo-resenha para a Editora Ubu sobre um lançamento da área de design… e acabei me empolgando com o retorno das pessoas sobre o vídeo. Pensei que poderia propor algo que pudesse dar conta da falta de encontro e discussão sobre a nossa profissão e que, ao mesmo tempo, fosse possível movimentar um pouquinho o mercado editorial.
Como funcionam esses clubes: quantos são, quem participa, como são feitas as discussões?
TB: No começo fiz uma lista de seis livros todos em português e editados no Brasil [isso era muito importante!], cada um será lido mês a mês pelos participantes. A ideia é que seja um clube de leitura 100% digital. Depois percebi que vários livros que gostava e considero importantes ficaram de fora – alguns por não terem tradução nem nunca terem sido editados no Brasil. Foi aí que surgiu o segundo grupo [com livros em português e inglês]. A inscrição foi aberta e não tinha nenhum pré-requisito: pode ser estudante, designer recém-formado ou até mesmo de outras áreas. As discussões serão feitas através da plataforma slack e as aulas serão exibidas na plataforma zoom, por videoconferência.
Quantos são os participantes do clube?
TB: Temos mais de 150 participantes distribuídos em três grupos [tivemos que abrir uma turma extra, tamanho o interesse!]. Pessoas de diversos pontos do país [e alguns do exterior!]. Estamos muito empolgadas!
Como é feita a escolha dos livros do clube?
TB: Sempre comprei muitos livros na área, então são livros que já estão na minha biblioteca – alguns mais recentes e outros desde a época de estudante de design. A escolha levou em conta alguns critérios: autores importantes para o campo, ideias que precisam ser levadas à superfície e discutidas por mais gente e também livros que inspirem e tragam alguma leveza para este momento [estamos todos precisando, não é mesmo?].
Por que foi escolhido A Forma do Livro?
TB: Sempre me intrigou muito a biografia do Jan Tschichold. O pensamento e a prática dele reúnem duas grandes correntes estéticas que dominaram a tipografia do século XX: a ousada “nova tipografia” e os princípios da tipografia clássica, orientada pelas convenções seculares em vigor desde a Renascença. Esta coletânea de ensaios é muito importante, é quando Tschichold revê seus postulados da juventude e volta-se ao estudo e reflexão da tipografia tradicional e sobretudo aos vários aspectos da composição tipográfica: página e mancha, parágrafos, grifos, entrelinhamento, tipologias, formatos e papéis, entre outros. Mesmo com mais de 14 anos de experiência no design editorial, este livro é [e sempre será] um refúgio, uma fonte valiosa de consulta e acredito que é peça fundamental para qualquer designer.
Por que foi escolhido Morte aos Papagaios?
TB: Li este livro pela primeira vez na época da faculdade. Coloquei na lista por ser um autor brasileiro, um livro escrito por um designer que tem uma prática relevante e que, ao mesmo tempo, consegue produzir alguma reflexão sobre o campo. São poucos que conseguem unir esses dois interesses e acredito que isso deve ser estimulado.
Em sua opinião, qual a importância de discutir livros sobre design? De que maneira eles contribuem para o repertório dos participantes do clube?
TB: É fundamental! Acho que no Brasil, o exercício da crítica em design ainda é muito incipiente e muitas vezes restrito ao meio acadêmico [sem grande interlocução com o meio profissional]. Por outro lado, existe um número crescente de designers que buscam se atualizar através dos livros… é preciso ficar atento a este movimento [sobretudo as editoras na escolha de seus títulos].