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Massao Ohno, Editor: resenha de Livros que eu Li

Massao Ohno, Editor, foi considerado um dos 50 melhores livros de 2020 pela Revista Quatro Cinco Um. Ohno foi um dos maiores editores do país, deixando sua ideia e marca que influenciou o mercado editorial independente. A seguir, o Blog da Ateliê reproduz o texto do Blog Livros que Li, no qual o professor de física da UFSM, Aguinaldo Medici Severino, compartilha suas impressões de leitura:

Esse é o livro mais bonito que li neste ano. É um livro que rende homenagem a um dos melhores artífices brasileiros, o editor, designer, tipógrafo, experimentador, artista gráfico e pensador das artes, Massao Ohno, paulista filho de imigrantes japoneses, que viveu entre 1936 e 2010. É um livro que evoca aqueles curtos períodos onde parece que o Brasil é um país normal, com alguma chance de evoluir, transformar-se, florescer, não essa fossa séptica mental e moral à qual normalmente retornamos, inexoravelmente. Massao começou a trabalhar com artes gráficas em meados dos anos 1950. De editor artesanal, que até custeava os primeiros trabalhos de jovens promissores poetas, Masso Ohno tornou-se em cinco décadas um dos mais respeitados editores brasileiros, referência única em qualidade de produção gráfica, fusão harmônica entre a forma dos livros e seu conteúdo, criatividade e originalidade. O resultado desta vida, os livros que editou com seus parceiros artistas, são livros arte, livros objeto, avant la lettre, já se sabe. Lê-se e vê-se este volume com um espanto perene nos olhos. Nele encontramos o que no Brasil fez-se de melhor, na poesia, nas artes plásticas, no cinema, na cultura. Os poetas que ele editou (Claudio Willer, Jorge Mautner, Carlos Vogt, Mario Chamie, Hilda Hilst, Olga Savary, Lêdo Ivo, Carlos Nejar, Paulo Mendes Campos, Vinícios de Moraes – para citar só dez dentre dezenas de outros) foram apresentados em volumes ilustrados por artistas plásticos geniais (João Suzuki, Wesley Duke Lee, Manabu Mabe, Tide Hellmeister, Arcângelo Ianelli, Mira Schendel, Tomie Otake, Carlos Vizioli, Millôr Fernandes, Cyro del Nero – novamente, citando apenas uns poucos). Ohno também colaborou vários outros respeitados editores (Roswitha Kempf, João Farkas, Ênio Silveira), formou jovens talentos e foi um ativo divulgador da cultura e da língua japonesa no Brasil.

Esse volume foi idealizado por José Armando Pereira da Silva, respeitado historiador da arte. Seu meticuloso levantamento da produção editorial de Massao Ohno foi feito em colaboração com a secretaria de cultura e as bibliotecas públicas da cidade de São Paulo, consumiu quase quinze anos e fez com que hoje estejam disponíveis para consulta, depositados na Biblioteca Mário de Andrade, aproximadamente 650 livros. O resultado do rastreamento de José Armando indica um número ligeiramente maior, listando 777 livros editados por Ohno, entre 1959 a 2010. No volume estão reproduzidas um quarto das sempre belas capas das obras, mas os textos que contextualizam cada fase da carreira de Ohno também são muito bons. Todo um panorama da arte e cultura brasileira da segunda metade do século passado se desvela. Nem preciso acrescentar que é um livro muito bem editado pela Ateliê. Ao folheá-lo, fui garimpando mentalmente as pequenas joias que estão entre meus guardados, não mais que dez delas, coisas de T. S. Eliot e James Joyce, Hilda Hilst e Paul Valéry, Augusto e Haroldo de Campos, Olga Savary e Bashô). Livro para se desfrutar, ler e reler, alegrar os dias, purgar-nos destes aziagos dias de pandemia. Evoé, Massao Ohno, miglior fabbro, evoé. Vale! 

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