Organizador de Rousseau e as Artes fala sobre a obra, em que pesquisadores mostram a importância do pensador suíço em diversas áreas do conhecimento
Por Renata de Albuquerque
Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) atuou em diversos campos do conhecimento. O escritor lançou suas ideias no campo da teoria política, foi compositor musical autodidata, mas sua faceta mais conhecida é a de filósofo.
Em 2012, ano em que se completariam trezentos anos de seu nascimento, foi organizado o colóquio Rousseau e as Artes; uma iniciativa do Consulado Geral da Suíça em São Paulo e da Universidade de Campinas.
Com o objetivo de encontrar os interlocutores contemporâneos de Rousseau, o Colóquio extrapolou os muros do meio acadêmico e foi levado também à Pinacoteca do Estado de São Paulo, um ambiente que apenas reforçou o conceito que o projeto já explicitava no nome: trazer ao público informações sobre como a obra do pensador suíço tem influência também sobre as artes.
A importância e a repercussão da iniciativa foi tamanha que agora a Ateliê coloca nas prateleiras o livro Rousseau e as Artes, organizado por Célia Gambini e Paulo Mugayar Kühl. O livro registra as reflexões dos pesquisadores presentes no evento, que procurou complementar os estudos sobre Jean-Jacques Rousseau, realizados no campo estritamente filosófico, e estendê-los ao campo das artes. “É possível emprestarmos algumas categorias do pensamento de Rousseau e verificar o quanto elas nos ajudam a pensar alguns aspectos da produção artística contemporânea”, considera Kühl. A seguir, ele fala sobre o assunto:
“As artes, desde a antiguidade, sempre atraíram a atenção de filósofos e vários eram os temas da discussão: a função delas na sociedade, questões mais específicas do que hoje chamaríamos de criação artística, as diversas preceptivas que tentavam de um modo ou outro regular a criação e também a recepção das obras etc. No século XVIII, vários são os pontos de mudança: um progressivo abandono da noção de mímese como o elemento central das artes, uma ênfase maior em questões como o gosto, o gênio, o nascimento da Estética como disciplina etc. Rousseau, assim como nos outros assuntos a que se dedicou, traz uma série de questionamentos palpitantes para o debate sobre as artes. De um lado, seu enorme interesse na música e o confronto com algumas ‘facções’ já estabelecidas – daí sua preferência pela música italiana, seu desprezo pela música francesa e a condenação que daí deriva. Mas também uma visão crítica sobre o teatro, sobre as artes do desenho, sempre com o intuito de rever posições estabelecidas, exercer a crítica e, quando possível, propor novos caminhos. O que pretendemos mostrar neste colóquio é que suas posições com relação às artes são equiparáveis ao Rousseau ‘pensador político’ ou ao Rousseau ‘educador’. Na verdade, segundo Marie-Pauline Martin, o pensamento do autor suíço sobre música é estruturador de toda sua posterior reflexão sobre questões da política.
Desde o século XVIII, muitas foram as transformações nas artes e no pensamento sobre elas. Não se trata de estabelecer um paralelo imediato entre as ideias de Rousseau e a produção artística na atualidade, mas sim, de encontrar ecos tardios, ressonâncias constantes, permanências escondidas. Os textos que compõem o livro mostram como tanto os detratores quanto os apreciadores de Rousseau o colocaram num lugar central, o que, de modo, nos chega até hoje. Assim, é possível emprestarmos algumas categorias do pensamento de Rousseau e verificar o quanto elas nos ajudam a pensar alguns aspectos da produção artística contemporânea. Nesse sentido, o texto de Peter Schneemann, que faz parte do livro, é muito esclarecedor ao tratar do tema da ‘inocência’. Mas também podemos tomar vários outros conceitos, sobretudo o de ‘natural’ e ‘natureza’ para olharmos uma produção artística que está tanto nos museus e galerias, mas também nos teatros, salas de concerto e na produção de música. No mesmo ano de comemorações do tricentenário do nascimento de Rousseau, foram realizados vários curta-metragens, com diversos diretores que realizaram seus filmes inspirados por ideias de Rousseau (http://lafautearousseau.com/). Ali vemos o quanto as questões levantadas pelos filósofos ainda são palpitantes e podem frutificar das mais variadas maneiras”.