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“O Azul e o Mar”: edição bilíngue com poemas de Paul Valéry

Eduardo de Campos Valadares selecionou poemas de três fases de Paul Valéry – Charmes, Clássicos e o longo poema “A Jovem Parca” – para compor este volume, chamado O Azul e o Mar, uma coedição com a Editora UFMG. Um trabalho de tradução que, segundo o tradutor, foi uma “festa da imaginação”, expressão que cria eco na “festa do intelecto” que, segundo o poeta francês, deve ser o poema.

“Os leitores bilíngues perceberão que a presente tradução busca privilegiar uma ambientação da poesia de Paul Valéry considerando-se a realidade linguística atual”, informa Valadares, Doutor em Física que vive em Minas Gerais, é professor na UFMG, já traduziu Stefan George e também é autor de poesia. A seguir, ele fala ao Blog da Ateliê:

Como foi feita a seleção dos poemas de O Azul e o Mar?

Eduardo de Campos Valadares: O meu ponto de partida foi o poema “Cemitério Marinho”, cuja tradução foi publicada no Brasil na década de 80 do século passado. Quando a li senti que nela a voz do poeta não fluía como no original. Resolvi então fazer a minha versão. Toda a obra poética de Paul Valéry é de domínio público e se encontra na internet. Selecionei os demais poemas por afinidade estética, pensando na sua universalidade.

Quais foram os maiores desafios da tradução deste volume?

ECV: Foram inúmeros. A poesia de Valéry é muito elaborada e requer extremo cuidado. Depois de ter o manuscrito aprovado pelos editores, reescrevi mais da metade do texto e fiz mudanças até o último minuto. Tudo isso foi possível graças ao apoio da produção. Eu diria que esta obsessão foi imprescindível. Neste processo a poesia de Paul Valéry foi se revelando de forma surpreendente.

Eduardo de Campos Valadares: física e poesia

O que diferencia este volume de outras edições dos poemas de Valéry em português?

ECV: Eu li a tradução de Rilke para o alemão e me dei conta que poderia ousar sem me sentir traidor do poeta. Cada idioma oferece oportunidades linguísticas únicas. Em  minha releitura dos poemas de Valéry explorei suas inúmeras possibilidades de exegese. Por ter traduzido anteriormente o poeta alemão Stefan George (Crepúsculo, Iluminuras), da mesma escola de Valéry – ambos foram discípulos de Mallarmé – me senti à vontade para explorar novas possibilidades, buscando sempre expressar a voz do poeta na língua portuguesa.

A questão da construção poética é bastante importante para Paul Valéry, bem como a questão da racionalidade. De que maneira isso impactou o seu trabalho de tradução para o português?

ECV: Eu sou um tradutor intuitivo. Utilizei todos os recursos ao meu alcance, incluindo ferramentas encontradas na internet, como dicionários de rimas, separador automático de sílabas, dicionários on-line, etc.  Senti visceralmente o que significa viver no século XXI e revisitar uma poesia clássica escrita há cem anos.

O refinamento estético e a inserção de temas filosóficos na poesia de Paul Valéry representaram, de alguma maneira, uma dificuldade em seu trabalho de tradutor?

ECV: Eu gosto de desafios impossíveis. Por isso encarei a poesia de Paul Valéry. O fato de ser um físico me ajudou muito na minha interlocução poética, às vezes lúcida, muitas vezes insana.

Paul Valéry

Em sua opinião O Azul e o Mar é uma boa introdução do trabalho de Valéry para quem nunca teve contato com a obra do poeta?

ECV: Eu creio que sim. Este foi o meu primeiro contato com a poesia de Valéry. Traduzi-lo me fez sair de um luto de cinco anos. Foi uma feliz coincidência, já que este tema reverbera nos poemas que traduzi.

E para aqueles que já são admiradores de sua poesia, o que este livro traz de novo?

ECV: Esta nova versão traz o frescor de um noviço que se aventura por um universo desconhecido. A poesia de Paul Valéry é um convite a refletir sobre a vida e o mundo, por isso admite novas percepções.

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