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O Sertão e a Sibéria em Luto

Por: Plinio Martins Filho

Com a morte de Jerusa Pires Ferreira, ocorrida no último domingo (21/04), perdemos uma colega generosa e uma professora e ensaísta extremamente culta. Docente do curso de Editoração da ECA/USP e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação e Semiótica da PUC/SP, suas aulas eram verdadeiras viagens: uma hora estávamos no sertão falando do cordel, em seguida, na Alemanha com Goethe ou na Rússia de Púchkin. Era fascinante esse trânsito entre o árido Nordeste brasileiro e a gélida Sibéria. Sempre valorizava seus alunos. De certo modo, “obrigou-me” a dar aulas na ECA, no curso de editoração. Devo a ela meu ingresso na carreira docente. Quando concebemos, pela Editora-Laboratório Com-Arte, a coleção “Editando o Editor”, eu havia recém-saído da Perspectiva para a Edusp, e ela sugeriu começarmos essa coleção, que hoje já abarca oito volumes, com um livro sobre Jacó Guinsburg, outro grande mestre que se foi há pouco.

Jerusa Pires Ferreira
Jerusa Pires Ferreira

Mesmo após a aposentadoria, Jerusa nunca deixou de colaborar com a ECA/USP e mais especificamente com o curso de Editoração. Amiga do livro, até falecer teve papel de destaque na coordenação do Núcleo de Estudos do Livro e da Edição (NELE), a frente dos estudos em torno da memória da edição e do livro popular no Brasil.

Seu legado foram seus estudos e projetos sobre o que ela chamava de “cultura das bordas”, isto é, trabalhos que tratavam do fértil entroncamento entre oralidade, memória, cultura popular e as relações entre literatura, comunicação e artes. Editou mais de vinte livros, entre eles Armadilhas da Memória (Ateliê, 2003), Cavalaria em Cordel (Edusp, 2016), Cultura das Bordas (Ateliê, 2010), O Livro de São Cipriano (Perspectiva, 1992) e Matrizes Impressas do Oral (Ateliê, 2014). Ela também se notabilizou como tradutora e principal divulgadora dos trabalhos de Paul Zumthor e de Henri Meschonnic no Brasil.

Se nos despedimos de Jerusa, felizmente sua obra permanecerá, frutificará e continuará a se expandir. Estão para serem lançados em breve Leituras Imediatas e A Visita da Peste, em coorganização com Roberto Oliveira. 

2 thoughts on “O Sertão e a Sibéria em Luto

  1. Marco Aurélio Fiochi disse:

    Grande mestra! Tive o prazer de ser seu aluno no primeiro ano da Editoração da ECA. Lembro-me de uma aula inesquecível sobre nossa memória musical. Isso há bons 30 anos. Siga em paz, grande Jerusa!

  2. Roberta disse:

    Que lindo, Plínio querido. Saudades imensas da nossa Jerusa!

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