Obra analisa contexto pessoal em que o imortal escreveu O Alienista
Carmen Guerreiro | Revista Língua Portuguesa
É muito difícil ler um clássico sem o peso da noção prévia de que se está diante de um clássico. A primeira leitura parece nascer contaminada se lança escritor e obra num limbo atemporal que despreza o contexto histórico, político, social e cultural de publicação.
Machado de Assis pode ter sido ele também vítima desse equívoco crítico. Isso fica claro quando Ivan Teixeira, em O Altar & o Trono – Dinâmica do Poder em O Alienista, nos faz mergulhar na sociedade da qual Machado de Assis fazia parte no fim do século 19, quando publicou o conto O Alienista, que satiriza a oposição entre ciência e igreja.
Vencedor do prêmio José Ermírio de Morais 2011, da Academia Brasileira de Letras, o livro tem o cuidado de não analisar Machado como ícone sagrado da literatura, mas um homem da imprensa vivendo o cotidiano e as questões de sua sociedade. Explora o dia a dia e funcionamento do jornal A Estação, editado por Machado, que para o autor influenciou a produção literária do imortal, como na preferência por capítulos curtos, que se encaixam melhor no formato do periódico.
Teixeira, mestre e doutor em literatura brasileira pela USP e professor livre-docente, faz um levantamento dos discursos de que Machado de Assis se apropriou para escrever o texto, escrito num período conturbado do Segundo Reinado, em que Machado usou o seu trabalho para se posicionar em relação a questões religiosas da época.
– Livro realmente interessante, instiga ao leitor interessado por detalhes da vida do mestre Machado de Assis.
um trabalho de Ivan Teixeira,(e uma edição da Ateliê,do Plinio Martins, traz em si dupla chancela de qualidade. além, claro, de respeitabilidade. excelente — não fugiria às extremas lucidez e ‘intimidade’ intelectual de Teixeira com relação a Machado — a submissão interpretativa da obra pelos prisma e foco do contexto histórico, político, social e cultural inerente à própria produção literária machadiana. soa-me bastante gratificante, pois estudioso e pesquisador de Machado — com livros ensaísticos publicados, dezenas de artigos e ensaios veiculados, muitas palestras e conferências proferidas;podendo comentar com pleno ‘conhecimento de causa’,portanto — imprimo a todos meus estudos,pesquisas e trabalhos sobre Machado (de resto, a todos os escritores objetos de minhas análises) esse viés histórico-político-social-cultural.: congratulo-me pois com Teixeira,evidentemente não apenas por esse aspecto mas por todos incorrentes em sua obra. como ressalva : a revista A Estação, continuação brasileira da revista francesa La Saison, era editada por L. Lombaerts, no Rio de Janeiro,e não por Machado, que nela colaborava com poemas, crítica teatral, a novela “Casa Velha” (1885-86), o romance “Quincas Borba” (de 1886 a 1891) e 43 contos – inclusive o célebre “Um para o outro”(julho-outubro 1879) desaparecido desde então e resgatado por mim em 2007 e integrante de meu livro “Contos de Machado de Assis:relicários e raisonnés” ( PUC-Rio\Loyola,2008).reitero cuprimentos, saudações..