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Recordações do Escrivão Isaías Caminha
Em vida, Lima Barreto publicou duas edições do romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha. A primeira, em 1909, pela editora portuguesa A. M. Teixeira; a segunda, corrigida e aumentada, em 1917, pela Tipografia da Revista dos Tribunais, com nova tiragem, no mesmo ano, por A. de Azevedo & Costa Editores. Essa publicação de 1917 serviu de texto de base para a edição que agora se apresenta ao leitor, na Coleção Clássicos Ateliê, pois vem a ser o testemunho da última vontade explícita do autor, portanto dotada de autenticidade, legitimidade e genuinidade. A edição Ateliê contém o texto fidedigno do romance, apurado segundo o método rigoroso da Ecdótica, com atualização ortográfica e notas, em favor, sobretudo, do leitor em formação. Enriquecem a edição ilustrações do artista Zepa Ferrer, que dialogam com o texto. (acesse aqui).
Triste Fim de Policarpo Quaresma
Quando este romance estreou, em 1915, nossa literatura oscilava entre o conservadorismo do século XIX e as inovações do XX. Nesse contexto, o personagem Policarpo Quaresma encarna o nacionalismo tardio, uma alegoria de Lima Barreto contra o idealismo romântico. O autor satiriza o presidente Floriano Peixoto e a burocracia estatal, que simbolizam o início da República – celebrada como progressista, mas estruturalmente arcaica. (acesse aqui).
LIMA BARRETO
Afonso Henriques de Lima Barreto (1881-1922), mais conhecido como Lima Barreto, foi jornalista, escrevendo também para alguns periódicos anarquistas do início do século XX, e um dos mais importantes escritores brasileiros. O seu pai foi tipógrafo. Aprendeu a profissão no Imperial Instituto Artístico, que imprimia o periódico A Semana Ilustrada. A sua mãe foi professora e faleceu quando ele tinha apenas 6 anos. O viúvo João Henriques trabalhou muito para sustentar os quatro filhos do casal. João Henriques era monarquista, ligado ao Visconde de Ouro Preto, padrinho do futuro escritor. Talvez as lembranças saudosistas do fim do período imperial no Brasil, bem como as remotas lembranças da Abolição da Escravatura na infância tenham vindo a exercer influência sobre a visão de mundo do autor. Lima Barreto foi o crítico mais agudo da época da República Velha no Brasil, rompendo com o nacionalismo ufanista e expondo as mazelas da República. Em sua obra, de temática social, privilegiou os pobres, os boêmios e os arruinados. Foi severamente criticado por escritores contemporâneos por seu estilo despojado e coloquial, que acabou influenciando os escritores modernistas. Fiel ao modelo do romance realista, resgatando as tradições cômicas, carnavalescas e picarescas da cultura popular, queria que a sua literatura fosse militante. Escrever tinha finalidade de criticar o mundo circundante para despertar alternativas renovadoras dos costumes e de práticas que, na sociedade, privilegiavam pessoas e grupos.