Ficção Interrompida
Diógenes Moura
Violência, amor, sexo, tormento e solidão nas grandes cidades brasileiras captados de maneira quase cinematográfica. Eis a explicação para o subtítulo deste livro de contos do pernambucano Diógenes Moura: “uma caixa de curtas”. Nas 41 pequenas narrativas que integram a obra, são expostos os questionamentos e o drama de homens comuns, identificados apenas com as iniciais de seus nomes. Por vezes, dá-se a impressão que passamos de um conto a outro como que num plano-sequência, a plasmar a fatalidade e a contingência dos personagens – recurso talvez explicado pelos conhecimentos de fotografia adquiridos pelo autor, curador de fotografia da Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Interior via Satélite
Marcos Siscar
Pode-se dizer que Marcos Siscar (1964) é uma de nossas vozes poéticas inovadoras. Seu percurso mostra um trabalho rigoroso e comprometido com a poesia, que se reflete na atividade como pesquisador e professor de teoria literária (hoje na Unicamp), em uma intensa atuação no que poderíamos chamar de “reflexão-prática” poética. O que vemos neste seu novo livro é um prosseguimento da busca por pensar e experimentar os impasses da poesia, suas possibilidades de acontecimento no contemporâneo, a partir da “crise de verso” (Mallarmé).
Se em Metade da Arte – publicado em 2003, mas reunindo sua produção desde 1990 – prevalece o poema escrito em versos, com cortes e enjambements, e em O Roubo do Silêncio (2006) temos um livro todo composto de poemas em prosa, neste Interior via Satélite, Siscar opta por uma oscilação entre essas “formas”, problematizando mais radicalmente a questão dos cortes e da pontuação no poema. E o jogo que se explicita aqui, logo no título paradoxal, é o próprio gesto poético de inverter e confrontar distâncias, propondo não apenas novos olhares, mas novos mundos: “o mar como um livro rigoroso” (da epígrafe Haroldo de Campos), o livro como um oceano, um planeta. Mas também um lugar (do) vazio: o poema como o “corte que dá forma ao vazio que quer dizer um mundo”.