A obra Romance de formação: caminhos e descaminhos do herói, de Maria Cecilia Marks e Marcus Vinícius Mazzari (Orgs.), publicada pela Ateliê Editorial, recebeu a posição de terceiro lugar do Prêmio Mário de Andrade, da Fundação Biblioteca Nacional, na categoria Ensaio Literário.
Milton Hatoum escreveu sobre a obra:
Talvez Dom Quixote seja o mais nobre e distante precursor do romance de formação, mas o modelo ou paradigma do Bildungsroman é atribuído a outra obra monumental do Ocidente: Os Anos de Aprendizado de Wilhelm Meister, de Goethe.
Se o romance da desilusão do século XIX pode ser lido como desdobramento ou variante do romance de formação, na literatura moderna e contemporânea, grandes narradores também assimilaram elementos estruturais desse gênero, dando-lhe nova feição.
Não por acaso, Wilhelm Meister é citado no Ulisses, de James Joyce como “Uma alma hesitante armando-se contra um mar de problemas, dilacerada por dúvidas conflitantes, como vemos na vida real”. De fato, esse tipo de narrativa evoca uma viagem no mar conturbado da vida, em que a personagem é acossada por dificuldades materiais e dilemas morais, filosóficos. Ela busca um sentido para sua existência numa sociedade desagregada e numa época em que as normas, já instáveis, devem ser questionadas.
Os ensaios densos e sugestivos deste volume analisam romances que, em graus diferentes, apresentam características do Bildungsroman ou de seus correlatos. Daí a rica diversidade de contexto histórico, cultural e linguístico dos livros comentados.
Para o modesto autor destas linhas, o romance de formação, que sonda e analisa a passagem da juventude à maturidade, com seus desafios, implicações e mudanças, tem sido uma espécie de bússola, de inspiração e, por que não dizer, de paixão.
Neste tempo de colapso do humanismo, a formação educacional plena (ou ao menos razoável) é essencial para impedir o avanço de qualquer forma de obscurantismo e barbárie.
AUTORES
Marcus Vinicius Mazzari é professor de Teoria Literária e Literatura Comparada na Universidade de São Paulo. Traduziu para o português textos de Adelbert von Chamisso, Bertolt Brecht, Gottfried Keller, Heinrich Heine, Karl Marx, Walter Benjamin, Jeremias Gotthelf e outros. Entre suas publicações estão Romance de Formação em Perspectiva Histórica (Ateliê Editorial, 1999), Labirintos da Aprendizagem (2010) e A Dupla Noite das Tílias. História e Natureza no Fausto de Goethe (2019). Elaborou comentários, notas, apresentações e posfácios para o Fausto de Goethe (Primeira e Segunda Parte), em tradução de Jenny Klabin Segall.
Maria Cecilia Marks é mestre e doutora em Letras – Teoria Literária e Literatura Comparada – pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH/USP). Desenvolve uma linha de estudos comparativistas em torno da obra de Guimarães Rosa, em diálogo com autores como Goethe, Rabelais, Thomas Mann e Dostoiévski, entre outros. Já publicou artigos em revistas acadêmicas tais como RUS e Literatura e Sociedade. É editora de periódicos e livros e atua como mediadora de leitura com grupos dedicados ao estudo de obras de Guimarães Rosa e Robert Musil.