Por: Renata de Albuquerque
O Brasil e o Japão têm uma longa e sólida História juntos. Primeiro, no início do século XX, os japoneses começaram a chegar ao Brasil. Depois, já no final do mesmo século, descendentes de japoneses nascidos no Brasil atravessaram o oceano em direção contrária a de seus pais e avós. Hoje, são mais de 1,5 milhões de japoneses e descendentes vivendo no Brasil.
Tudo começou em 1908. No dia 18 de junho, o navio Kasato Maru chegou no Porto de Santos trazendo 793 pessoas que haviam partido, 52 dias antes, do Porto de Kobe, região central do Japão. Grande parte dos imigrantes – não só os vindos no Kasatu Maru – fixou-se em São Paulo e transformou a capital paulista na maior colônia japonesa do mundo fora do Japão.
Sôbô – Uma Saga da Imigração Japonesa, livro que acaba de ganhar uma nova edição da Ateliê, narra parte desta história, contada pelo autor, Tatsuzô Ishikawa, que, em 1930, embarcou para o Brasil no navio La Plata Maru, como imigrante individual com auxílio do governo. Com este livro, que descreve a imigração japonesa no Brasil, Tatsuzô ganhou o primeiro prêmio Akutagawa – o prêmio literário de maior valor no Japão, instituído em 1935. O livro tem tradução de Maria F. Tomimatsu, Monica Okamoto e Takao Namekata.
Sôbô é um retrato de algo que chocou seu ator: as condições em que os japoneses migraram para o Brasil. A vida no Japão estava difícil – e endureceria ainda mais no período da Segunda Guerra. O livro originou um estilo que consagrou Tatsuzô: o romance social. Como explica o jornalista Sakae Ishikawa no prefácio do livro, o estilo de Tatsuzô, seu pai, é o de “perguntar ao mundo em forma de romance”.
Tudo começa na hospedagem em que os imigrantes ficavam em Kobe. Ele descreve não apenas o lugar, mas a expectativas das pessoas que esperavam pela viagem que poderia levá-las a um lugar melhor. A segunda parte da narrativa dedica-se à viagem em si. Já a terceira parte fala da chegada ao Brasil, com ênfase na população de trabalhadores rurais.
O título do livro já explica muito do que seria essa saga. Sôbô é uma palavra composta por dois ideogramas. “Sô remete a Sôsei, ‘povo’, ou ‘cor de capim’, ‘apressar-se’, ‘envelhecer’. Bô, a ‘imigrante’, ‘povo subjugado’. O imigrante é comparado ao capim ou erva daninha, como algo desprezível”, explica Marilia Kubota.
A escolha desse viés para retratar os imigrantes japoneses é uma inovação de Tatsukô. Grande parte da literatura sobre o assunto se debruça sobre a individualidade, a tradição cultural do antigo Japão e a vida da classe média alta urbana. Poucos dão espaço ao trabalhador rural e as dificuldades por quais passam: a barreira da língua, dos costumes e até mesmo da alimentação em um país tão distante e diferente.
Apesar de, nos anos 30, ter ficado apenas cerca de seis meses no Brasil, Tatsuzô – que faleceu em 1985 – guardou lembranças do país por toda sua vida e retratou-as com maestria em Sôbô.
Realmente vcs fazem jus ao nome que adotaram pois os livros editados são verdadeiras obras de se comer com os olhos. Continuem assim precisamos de um país que tenha a leitura como um esporte preferido.
Saravá
Agradecemos muito seus elogios! Podemos compartilhar nas redes sociais da editora?