Na edição de Ájax, publicada pela Ateliê Editorial e Editora Mnema, o professor e tradutor Jaa Torrano escreveu sobre Sófocles e na sua relação para a reflexão sobre pensar política. O mito de Ájax ganha edição bilíngue, com inspirada tradução de Jaa Torrano, acompanhada de agudos e reveladores estudos do tradutor e de Beatriz de Paoli, bem como de um útil e oportuno Glossário Mitológico de Antropônimos, Teônimos e Topônimos. A Ateliê e a Mnema tem como objetivo publicar as tragédias completas de Sófocles em sete volumes. Além de Ájax, já foram publicadas as obras As Traquínias, Édipo Rei e Antígona (confira aqui)
Jaa Torrano apontou que “A tragédia era um dos principais recursos da educação pública, cuja eficácia e universalidade fez Platão no século seguinte apodar a democracia de “teatrocracia” (Leis, 701 a). Herdeira de longa tradição poética, que incluía a épica e a lírica monódica e coral, contemporânea dos alvores do pensamento técnico e de seus numerosos tratados, ditos tékhnai, a tragédia era uma máquina de pensar tanto a condição de mortal quanto os limites inerentes ao exercício do poder no horizonte da democracia ateniense”.
Para o tradutor e estudioso da literatura clássica grega: “Como uma das expressões literárias e artísticas da democracia ateniense, o gênero trágico tem seus inícios, desenvolvimento e apogeu de certo modo concomitante e simultâneo com o desenvolvimento histórico da democracia ateniense e de suas práticas e instituições. Antes da invenção da teoria política (he politikè tékhne) pela filosofia em A República de Platão, a tragédia questionou, examinou, avaliou e avalizou as práticas e procedimentos do jogo democrático (tà politiká) refletindo sobre os limites inerentes a todo exercício de poder e sobre o caráter inelutável da justiça no horizonte temporal da vida política”. E complementou: “As tragédias completas de Sófocles – quando lidas à luz da complexão dessas noções míticas (“Deus(es)”, “Numes”, “heróis” e “mortais”) e quando percebidas essas noções na dinâmica própria da interação-e-integração de seus elementos constitutivos – deixam-nos ver como e que justiça se cumpre no curso dos acontecimentos, no horizonte político dos mortais”.
O texto completo está presente na obra Ájax, que pode ser adquirida aqui.
Sófocles (Atenas, 496 a.C. – Atenas, 406 a.C.) é considerado um dos grandes representantes do teatro grego antigo e presenciou o período de maior desenvolvimento cultural de Atenas. Viveu sempre nesta cidade-estado e lá morreu, nonagenário, por volta de 406/405 a.C. É o segundo dos três poetas trágicos canônicos, pois suas obras são posteriores às de Ésquilo e anteriores às de Eurípedes. Foi ainda em vida o mais bem-sucedido autor de tragédias do século V a.C. e os testemunhos antigos atribuem ao autor cerca de 120 tragédias e dramas satíricos, dos quais somente sete tragédias chegaram até nós na íntegra.
José Antonio Alves Torrano (Jaa Torrano) fez a graduação (1971-74) em Letras Clássicas (Português Latim e Grego) na Universidade de São Paulo, onde começou a lecionar Língua e Literatura Grega como auxiliar de ensino na Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas em 1975. No Departamento de Letras Clássicas e Vernáculas da Universidade São Paulo defendeu o mestrado em 1980 com a dissertação “O Mundo como Função de Musas”, o doutorado em 1987 com a tese “O Sentido de Zeus: o Mito do Mundo e o Modo Mítico de Ser no Mundo”, a livre-docência em 2001 com a tese “A Dialética Trágica na Oresteia de Ésquilo” e desde 2006 é professor titular de língua e literatura grega. Em 2000 foi professor visitante na Universidade de Aveiro (PT).