Renato Pompeu | Carta Capital
A chamada crise de criatividade da literatura nestes tempos pós-modernos parece na verdade um fenômeno da mídia que só dá divulgação a obras feitas segundo o padrão mercadológico consagrados pelos best sellers mundiais. Pois o fato é que a literatura brasileira deste século XXI produziu até o momento pelo menos três obras primas, os romances Um Defeito de Cor, de Ana Maria Gonçalves, O Rastro do Jaguar, de Murilo de Carvalho, e este Coisas do Diabo Contra, do baiano radicado em São Paulo Eromar Bomfim, obra que pode ser definida como “pós-pós-moderna” ou como “ultramoderna”.
Trata-se de uma sinfonia complexa em linguagem totalmente elaborada, quase clássica, como a de Os Lusíadas, de Camões, em que o tema central, o assassínio como aspiração ao sublime, transforma-se em seu contrário, a demonstração de que o mundo contemporâneo, em especial a elite da cidade de São Paulo, sempre se apoiara, ao longo dos séculos, na horrenda matança em massa, seja nas guerras, seja nas bandeiras, ou no trabalho como exploração do ser humano pelo ser humano. A paulistanidade entendida como metáfora do mundo, esvai-se em vivências entre realistas e oníricas de paisagens urbanas fantasmagóricas, doentias e sublimes.
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