Por Renata de Albuquerque
“Augusto de Campos realiza uma pesquisa poética regida pelo signo da invenção, utilizando recursos das tecnologias digitais que permitem integrar palavra, som, imagem, movimento, tempo e espaço em composições que solicitam a participação inteligente do leitor para a construção de significados”, define Claudio Daniel.
Esta talvez seja uma das melhores sínteses para entender a relevância de Viva Vaia, livro de 1979, que está na quinta edição e que é um dos mais importantes registros do Concretismo brasileiro. Em quatro décadas, o livro se confirma como uma das obras mais importantes da literatura brasileira.
O Concretismo – movimento de vanguarda que teve manifestações na música, artes plásticas e literatura – foi uma revolução no modelo poético brasileiro. Lançado oficialmente em 1956, pelos irmãos Augusto e Haroldo de Campos e por Décio Pignatari, o movimento da poesia concreta preconizava o desaparecimento do eu lírico e a utilização de signos visuais e geométricos para compor a poesia. Em outras palavras, o concretismo sugeria que a forma fizesse parte da poesia, o que, em última instância pode levar ao desaparecimento do verso.
Todas as manifestações artísticas do concretismo são bastante elaboradas, dando relevância à forma: os efeitos gráficos e recursos visuais e fonéticos da poesia muitas vezes a fazem parecer uma peça de design gráfico. O uso do papel como um espaço quase geográfico também propõe uma leitura interativa – com a participação do leitor na construção dos significados propostos.
Viva Vaia
Este livro, que reúne poemas de Augusto de Campos escritos entre 1949 e 1979, traz um CD encartado, com quinze dos poemas que pertencem ao livro. Destes, dez figuraram no CD POESIA É RISCO, lançado em 1995, com criação musical e sonorização de Cid Campos. A diagramação de Julio Plaza e o projeto gráfico original foram respeitados e mantidos. Além disso, a edição devolve a impressão cromática inicial a alguns poemas difíceis de se reproduzir.
A poesia de Viva Vaia traz não apenas questões gráficas e visuais, mas também uma carga importante de crítica social, já que levam o leitor a pensar sobre o mundo que o cerca, com uma atualidade assombrosa ainda nos dias de hoje.
O poema que dá título à antologia é dedicado a Caetano Veloso, aludindo ao episódio em que ele fora vaiado pelo público durante o Festival Internacional da Canção de 1968.
Um dos exemplos do volume é o poema “Rever” (acima), um palíndromo perfeito que, nesta configuração gráfica contém no signo seu próprio significado. Mais que um achado gráfico, um jogo poético de palavras e imagens.
Viva Vaia é uma experiência estética ampla, que contempla não apenas a poesia, mas artes visuais, música e também provoca no leitor uma reflexão crítica sobre como todas essas inovações foram absorvidas e utilizadas pelo mercado.
Livro excelente, indispensável para quem gosta de poesia.
A gente também adora!