Este livro de Ermano Stradelli, no entanto, contém uma diferença que o torna um documento de grande relevância linguística, sociológica e antropológica. Tendo vivido e trabalhado na região amazônica, onde morreu, sendo fluente na língua geral, recolheu um vocabulário vivencial da língua nheengatu. Acesse aqui.
Não mais as relíquias dos tempos iniciais da Conquista, mas a língua nheengatu já adaptada à conceituação e à descrição de coisas e situações da sociedade que dessa Conquista resultou. O nheengatu como língua dinâmica, o que explica sua vitalidade até os dias de hoje em várias regiões do Brasil, como o Alto Rio Negro, onde é língua oficial.
Ermanno Stradelli (1852-1926) foi conde, folclorista, explorador e etnógrafo ítalo-brasileiro. Stradelli realizou expedições à Amazônia, recolhendo relatos de mitos dos povos indígenas. Sua vida foi publicada em livro por Luís da Câmara Cascudo, intitulado Em Memória de Stradelli (1936), onde o autor principia se queixando da falta de dados então encontrada: “Quase nada se sabia dele. Morrera em 1926 e seu nome se diluíra na sombra, como uma inutilidade. Raras citações. Raríssimos informadores. Percentagem altíssima em erros, enganos, omissões”. Stradelli nasceu em uma família nobre da Lombardia. Estudou Direito na Universidade de Pisa, e parecia destinado a uma respeitável carreira de advogado. Porém, apaixonado pelas viagens, decidiu tornar-se explorador. Aos 27 anos de idade decidiu viajar para o Brasil, para explorar a Região Amazônica, depois de ter conseguido o patrocínio moral da Società Geografica Italiana. Começou a estudar, como autodidata, geografia, topografia, geologia, botânica e as técnicas da fotografia. Chegou a Manaus em 1879, e passou alguns meses junto aos missionários franciscanos para aperfeiçoar o Português. Em 1880 viajou pelo rio Purus e seus afluentes; depois, subiu o rio Amazonas até Fonte Boa e Loreto. Nesta expedição encontrou o conde Alessandro Sabatini, que lhe transmitiu a paixão pela língua nheengatu. Interessado pela cultura dos índios tarianas e tucanos, Stradelli começou a estudar os idiomas e a tradição oral destas tribos. Em 1883 passou uma temporada em Itacoatira, onde começou a organizar seus registros de viagem e as muitas definições das palavras em nheengatu que tinha coletado, com o objetivo de realizar um dicionário.