Em livro da Ateliê Editorial, o ator Lima Duarte fala sobre seus trabalhos no rádio e na televisão

A obra Pioneiros do Rádio e da TV no Brasil são fragmentos de uma história de mais de cinquenta anos, contada pelos principais artistas e profissionais que atuaram no rádio e na televisão brasileiros nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Estas histórias entretêm, no seu formato de entrevista, e exercem o importante papel de colaborar para a preservação da memória da produção cultural do país.
Os depoimentos reunidos no livro em destaque aqui, segundo de uma série em dois volumes publicados pela Ateliê Editorial e organizado por David José Lessa Mattos, começaram a ser colhidos pela atriz Vida Alves em 1997 na forma de entrevistas gravadas em videoteipe, cada um com aproximadamente uma hora de duração.
Vida Alves faz a todos os entrevistados uma série de perguntas como, por exemplo, Seu nome?, Os nomes de seus pais?, Onde nasceu?, Onde fez os primeiros estudos?, trazendo para o leitor um conjunto de informação íntima do entrevistado, assim como particularidades sobre a história cultural do Brasil, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Cultura urbana, associada ao processo de industrialização e modernização do país, em que o rádio, a partir dos anos de 1930, e a televisão, a partir dos anos de 1950, tiveram importante papel.
Leia a seguir um trecho da entrevista com o ator Lima Duarte, presente no primeiro volume de Pioneiros do Rádio e da TV no Brasil.
“só fiz mesmo espalhar por aí a paixão que tenho pelas pessoas e pela vida”
VIDA ALVES: Quando começou a pensar em arte?
LIMA DUARTE: Arte? Acho que já nasci com ela. Há algo de psicológico na história desse ator que sou. Eu me formei acompanhando a minha mãe pelos cirquinhos do interior, nas estradinhas poeirentas de Minas. Ela era atriz e, nos circos, representava aqueles grandes dramas do repertório popular brasileiro […] Minha infância foi toda assim: minha mãe representando, no palco, e eu a espiando, na coxia. Ficava ali assistindo à minha mãe; adorava vê-la trabalhar.
VA: E o rádio? Quando é que ele surgiu na sua vida?
LD: Comecei no rádio, antes da televisão. Quando a televisão apareceu, em 1950, eu já estava no rádio. Comecei a trabalhar em 1946, na Rádio Tupi, ‘a mais poderosas emissora paulista’, como era anunciada pelos locutores.
VD: Como foi o primeiro dia da televisão?
LD: Oficialmente, a televisão foi inaugurada no dia 18 de setembro de 1950. Havia umas dezoito pessoas no estúdio, pouca gente. Dentre os homens que estavam lá, acho que sou o único que ainda está vivo. Dentre as mulheres, ainda estão vivas Yara Lins, Lolita Rodrigues e Lia de Aguiar. No meio dessas dezoito pessoas, estavam o Adhemar de Barros e o dr. Assis Chateaubriand, que foi um grande visionário, um homem que tinha visão do futuro […] E, no dia inauguração, lá estava eu participando de um quadro cômico, fazendo o papel de um dos alunos de uma escolinha comandada por um professor engraçado, meio caipira, uma espécie de Mazzaropi da época.
VD: Você já tem cinquenta anos de carreira e de sucesso, e é considerado o maior ator brasileiro. O que é que você pensa disso?
LD: Atualmente, tenho vivido bastante no meu sítio, que é o meu mundo. Talvez lá, com o meu pessoal, eu seja considerado o maior ator brasileiro. Na verdade, o que penso é o seguinte: só fiz mesmo espalhar por aí a paixão que tenho pelas pessoas e pela vida. Acho que isso deu algum resultado.
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Este primeiro volume da série reúne alguns dos cerca de cem depoimentos de artistas e profissionais que atuaram nas emissoras de rádio nos anos 1940 e na televisão, nas décadas de 1950 e 1960, muitos deles tendo participado da inauguração em São Paulo, no dia 19 de setembro de 1950, da PRF-3 TV Tupi-Difusora, primeira emissora de televisão do país. O leitor poderá ler depoimentos de Álvaro de Moya, César Monteclaro, Dias Gomes, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), Lima Duarte, Marcos Rey e Walter Avancini.
Este segundo volume da série reúne alguns dos cerca de cem depoimentos de artistas e profissionais que atuaram nas emissoras de rádio nos anos 1940 e na televisão, nas décadas de 1950 e 1960, muitos deles tendo participado da inauguração em São Paulo, no dia 19 de setembro de 1950, da PRF-3 TV Tupi-Difusora, primeira emissora de televisão do país. O leitor poderá ler depoimentos de Abelardo Figueiredo, Antonino Seabra, Eneas Machado de Assis, José Blota Junior, Lia de Aguiar, Murilo Antunes Alves e Tatiana Belinky.
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DAVID JOSÉ LESSA MATTOS nasceu em São Paulo, em 1942. Na década de 1950, teve participação intensa como ator infantojuvenil nos teleteatros da TV Tupi-Difusora de São Paulo. Em 1964, ingressa no Teatro de Arena de São Paulo, participando como ator das montagens de “O Tartufo”, “Arena Conta Zumbi” e “Arena Conta Tiradentes”, com direção de Augusto Boal. Em 1968, já formado em Ciências Sociais pela USP, segue para Paris como bolsista do governo francês. Lá, licencia-se em Sociologia e realiza o mestrado em Sociologia da Cultura na Universidade de Paris X-Nanterre. Em 1974, de volta ao Brasil, torna-se professor de Sociologia e Política na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Em 1975, ingressa na Unicamp como técnico docente de pesquisa. Em 1978, retoma as atividades artísticas, atuando por algum tempo como ator no teatro, na televisão e no cinema, particularmente nos filmes dirigidos por seu velho amigo, o cineasta Roberto Santos. Em 1984, retorna à vida universitária. Atualmente é professor aposentado do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
VIDA ALVES nasceu em 1928 e foi atriz, autora e apresentadora brasileira, pioneira da televisão no país. Fez parte de uma importante geração de atores e atrizes que iniciaram com a rádio, atuando em radionovelas e seguindo para as telenovelas. Como escritora também foi muito importante para a televisão, tendo escrito Tribunal do Coração, transmitido em 1952 pela TV Tupi. Em 1995, fundou a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira (Apite), que mais tarde veio a se tornar a Pró-TV, e que tem como objetivo preservar a memória da televisão brasileira. Ela presidiu a Pró-TV até seu falecimento, em 2017.