Carolina Ferro | Revista História da Biblioteca Nacional | Seção: Livros | Página 94 | Março de 2015
O acesso ao livro nunca foi tão democrático. Esta reflexão ganha peso ao compararmos nossa época com momentos anteriores, quando esse objeto podia ser obscuro e proibido – por isso mesmo, instigante. Foi o que ocorreu na Espanha do século XVII, período conhecido como Barroco ou Século de Ouro. A maioria da população era analfabeta, mas, em época de poucas mídias, uma obra literária podia ter um alcance maior do que se imagina. Castillo Gómez recorre a documentos de arquivo, testemunhos escritos, pistas encontradas na materialidade das obras, folhas soltas, panfletos e bilhetes para compreender como e onde aquela sociedade lia e qual era o sentido dessas leituras.
O autor aborda aquela que era considerada boa ou má leitura, a forma erudita de fazê-Ia somada à produção de conhecimento, as transgressões daqueles que liam obras censuradas pela Inquisição, a leitura solitária e em comunidade, que fazia com que o acesso à obra fosse além de um único leitor, tanto no âmbito religioso quanto no profano. A importância dada aos livros aparece também nas biografias de homens do período.
Todos os temas se dividem em seis capítulos, e estes, em subcapítulos estimulantes, e contam com uma excelente tradução realizada por Claudio Giordano. O exemplar tem nove reproduções de documentos que dão a dimensão da variedade de suportes e tipos de escrita pesquisados, como um cartaz publicitário do ilusionista flamengo Juan Rogé (impresso) e anotações de leitura de Juan Vázquez del Marmol (manuscrito). Uma obra memorável para os bibliófilos.
Cotação do Livro: Altamente recomendável
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