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No Limiar da Noite: trechos

O novo livro do sociólogo e Professor Titular de Sociologia da Faculdade de Filosofia da USP,  José de Souza Martins, está longe de ser uma leitura técnica ou acadêmica. As crônicas poéticas de “No Limiar da Noite” emocionam leitores dos mais variados gostos, porque contam histórias e trazem à tona sensações e sentimentos universais. São as histórias dos “homens e mulheres comuns”, que escrevem o cotidiano da vida.

A seguir, você lê alguns trechos da obra:

APRESENTAÇÃO


Para que explicar
o inexplicável
do invisível
e do inacabado?
O perceber de soslaio,
o visto de relance?
O nós que somos
não sendo?

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PROVISÓRIO


Sou os pedaços
de que fui feito
no acaso da vida,
aos poucos,
no vagar que deu sentido
às minhas pressas.

Fui sendo antes de ser,
chegando antes de chegar.

Sou a pressa
que não é minha.
o ser que não sou.

Sou o provisório
do passo lento
e da espera.

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PALAVRAS QUE RESTAM

Poucas palavras sobraram
para dizer o que deve ser dito,
para gaguejar o que restou da esperança,
para esperar o que resta da vida.

Onde estão as palavras
da abundância de sonhos?
Onde estão os sonhos
que as palavras não disseram,
que o dizer não sonhou,
que a vida não viveu,
que a espera não realizou?

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PENSAR


Pensar ao contrário
é o contrário do pensar.
É o pensamento
de quem não pensa
e pensa que pensou.
É o silêncio da ideia,
o inteiro da alienação,
o caminhar sem chegar,
o ir quando se volta,
o retorno ao nunca.
Todo o avesso
desta vida sem rumo.

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SOMBRA

Neste país do sol,
certo e seguro,
dá medo
essa sombra
que cai,
lentamente,
sobre o verde
da esperança,
que escurece
o horizonte,
que fecha a porta
do amanhã
e a janela do ontem.
Dá medo.
O medo
do poder cinzento,
de coisa nenhuma.
CTP_

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