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Velho Chico: um rio, uma novela, um livro

Por Renata de Albuquerque

RioSaoFrancisco

Título da nova novela das 21h da Globo, Velho Chico é muito mais que isso. É também a maneira como as pessoas da região chamam o rio, com uma intimidade incomum. Mas isso talvez tenha explicação: parece que a história daquelas pessoas não poderia ser escrita sem que o Rio São Francisco existisse. E é isso que Dirce de Assis Cavalcanti retrata nas páginas de seu livro O Velho Chico ou A Vida É Amável.

O livro, homônimo da nova novela, é o relato de uma viagem da autora pelo Rio São Francisco feita na década de 70 – a mesma época em que a história da novela se inicia. Mas a novela é explicitamente uma obra de ficção, com um enredo que mistura rixas familiares, amores proibidos e um grande elenco, que conta com Tarcísio Meira, Rodrigo Santoro e Antonio Fagundes, entre outros. Na sinopse de Velho Chico, também há espaço para um fundo histórico (a construção de uma hidrelétrica faz parte da trama).

Capa do livro de Dirce de Assis Cavalcanti

Capa do livro de Dirce de Assis Cavalcanti

Já o livro de Dirce de Assis Cavalcanti é “um relato factual, mas cheio de poesia”, como definiu José Mindlin, no prefácio da obra. O livro mistura relatos do que a autora testemunhou durante sua viagem com impressões, pensamentos e emoções do que sentiu ao visitar o lugar e conhecer os habitantes do local.

O Velho Chico já seria uma leitura atraente, mesmo que se limitasse à descrição dos lugares que visitou (…) Mas foi além, pois soube fazer ressaltar o interesse humano do variado tipo de pessoas e vidas com que teve contato. Tudo isso (…) constituiu apenas uma parte do livro – a viagem exterior. Houve, porém, outra viagem, paralela, que Dirce conseguiu entremear com a primeira – uma viagem interior, que surpreende e impressiona, e que mantém sempre aceso o interesse do leitor”, escreve José Mindlin.

Um exemplo disso é um curto trecho ainda no início do livro, em que a autora escreve:

“A estrada e o rio. Uma caindo no outro de repente. Nos braços do outro. De repente: o rio. Sem se anunciar. Nem barrento, como diziam. Vestido de azul, à espera. Apressado e cantador. Por entre as pedras, corredeiro. Mesmo assim à espera.”

É nessa prosa cheia de imagens poéticas de Dirce de Assis Cavalcanti que o Rio São Francisco se desenha, aos poucos, mais personagem que paisagem. Um personagem fundamental para a existência das pessoas cuja relação com o rio é tão íntima que o chamam pelo familiar apelido de Velho Chico.

A nova novela Velho Chico não é baseada no livro de Dirce de Assis Cavalcanti, mas certamente guarda muitas semelhanças com ele: a paisagem, os personagens regionais, a beleza e a complexidade da vida local são ingredientes inescapáveis, tanto na sinopse da ficção quanto no relato da realidade. Dizem que a arte imita a vida – e a nova novela da Globo deve usar muitos elementos reais em seu enredo. Mas, no livro O Velho Chico ou A Vida É Amável, o que se pode perceber é que a autora consegue captar com poesia a realidade daquela região do Brasil. Se você já leu o livro, deixe seu comentário!

2 thoughts on “Velho Chico: um rio, uma novela, um livro

  1. Margarete Montipó Weisheimer disse:

    Amei rever em ” Velho Chico”, lembranças de Grande Sertão Veredas”. Este sertão com seus personagens tão marcantes que ainda desconhecemos , este rio que o engrandece pela sua posição geográfica , beleza e importância para a economia e literatura local.Parabéns por mais uma vez enaltecer o nosso país na teledramaturgia ,ressaltando o valor , beleza e as reivindicações em um Brasil atual , contemporâneo. Margarete SC – Florianópolis

    1. marluce Pinheiro da silva disse:

      O velho Chico foi citado no livro de Celso furtado como transposição para acabar com a seca no nordeste. foi durante o governo de Aluísio Alves que a presença deste economista fosse marcante

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