Com a Palavra

Com a Palavra n.16 – “Ariosto oferece descobertas a cada geração que o lê”

o poeta e o tradutor
Foram mais de dez anos traduzindo os 38.576 versos, distribuídos em 4.822 oitavas-rimas por 46 cantos, que o premiado professor Pedro Garcez Ghirardi dedicou à versão brasileira de Orlando Furioso, clássica obra publicada em 1516 pelo poeta italiano Ludovico Ariosto. Após lançar o Tomo I em 2014, a Ateliê Editorial e a Unicamp lançam o Tomo II. O segundo volume, como no primeiro, é bilíngue e tem as ilustrações de Gustave Doré.

Os leitores do Com a Palavra leram abaixo uma entrevista com Garcez Ghirardi sobre o processo ambicioso de traduzir a obra de Ariosto:

Ludovico Ariosto [Reprodução Il Foglio]

ATELIÊ EDITORIAL: Professor, para início de conversa, como surgiu a possibilidade de traduzir o clássico de Ariosto?

PEDRO GARCEZ GHIRARDI: A ocasião foi a sala de aula. O entusiasmo da juventude pela obra de Ariosto, nas aulas de Literatura Italiana, convidava a tentar levá-la a um público mais amplo.

AE: Como foi o processo de tradução de Orlando Furioso?

PGG: Em geral, o processo remoto desta tradução se confunde com algumas preferências pessoais, como a leitura constante dos clássicos. Em particular, o que se procurou (não sei com que êxito) foi conduzir o trabalho técnico a resultados que permitissem vislumbrar algo da beleza inigualável do original.

AE: Poderia destacar o trabalho que os dois tomos tiveram para você? Consegue distinguir o processo entre um volume e outro? Já que teve um intervalo de anos entre os dois livros.

PGG: Nesse período as circunstâncias mudaram: o primeiro tomo podia beneficiar-se da riqueza do diálogo em sala de aula; o segundo, posterior à aposentadoria, teve, em compensação, o estímulo de leitoras e leitores, que relembro com gratidão. Mas o trabalho em si teve o mesmo ritmo, sempre absorvente, a ponto de fazer do tradutor quase colega do eremita da ilha deserta, que surge no final do poema. Hoje gostaria de rever algumas soluções, corrigir pequenas falhas de minha revisão e acrescentar uma ou outra nota – mas não sei se isso ainda será possível.

AE: Como professor de Literatura Italiana, poderia apontar a importância da obra de Ariosto para a cultura mundial?

PGG: Falar da importância de Ariosto é lembrar leitores como Cervantes, Voltaire e Borges, ou artistas como Vivaldi e Ingres, que se inspiraram em seu poema. Dois obstáculos impediram que o Orlando Furioso tivesse ainda maior difusão, um deles paradoxal: estupenda musicalidade do original italiano (que faz empalidecer qualquer tradução). O outro foi a interpretação até há pouco predominante, que “sequestrava” o tema central do poema: a loucura, presente desde o título.

AE: Por que ler Orlando Furioso hoje?

PGG: Pode-se acrescentar que em poucos, como em Ariosto, encontramos a percepção de algo muito presente na consciência de nosso tempo: a relatividade das perspectivas, individuais ou sociais, e a necessidade de convivermos com generosidade, apesar de nossos contrastes. Com a generosidade que tantas vezes se manifesta no sorriso e no humor, sempre tão presentes em sua obra. Mas, enfim, Ariosto, como todos os clássicos, oferece descobertas a cada geração que o lê.

PROMOÇÃO

Os dois tomos de Orlando Furioso estão em promoção no site da Ateliê Editorial. Na compra do Tomo I e/ou Tomo II, você ganha uma ecobag personalizada exclusiva da obra.

TOMO I
DE: R$220,00
POR: R$154,00

TOMO II
DE: R$260,00
POR: R$182,00

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Pedro Garcez Ghirardi é Professor Titular de Literatura Italiana da Universidade de São Paulo (2006). Mestre (1982) e Doutor em Letras (1987) pela mesma Universidade, onde leciona desde 1980, tendo chegado à Livre-Docência em 1993. Pesquisador na área de Letras e de Tradução (Prêmio Jabuti, 2003, pela Tradução do Orlando Furioso, de Ariosto).

Ludovico Ariosto (1474-1533) foi poeta italiano. Estudou os poetas latinos e a composição de seus versos. A obra de Ariosto é vasta: Poesias Líricas Latinas(1493/1503), Sátiras, peças de teatro etc. Sua obra mais famosa é Orlando Furioso. O poema, composto de 46 cantos em sua versão final, alcançou grande sucesso, por ocasião de sua publicação. Nele, o poeta ridiculariza a nobreza feudal em decadência, ao mesmo tempo que prenuncia o novo homem da Renascença.

 

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