Com a Palavra

Com a Palavra n.19 – Pedro Nava e uma aula de escrita criativa

“Nunca lhe aconteceu, ao ler um livro, interromper com frequência a leitura, não por desinteresse, mas, ao contrário, por afluxo de ideias, excitações, associações? Numa palavra, nunca lhe aconteceu ler levantando a cabeça?”, este trecho escrito pelo linguista Roland Barthes na obra O Rumos da Língua expõe a importância da escrita literária para a elaboração diferencial na narração de um livro.

Muitos professores de oficinas de escrita criativa abordam em suas aulas a questão do escritor encontrar o seu olhar original para os materiais que rodeiam o seu cotidiano. Um bom exemplo é o que o premiado autor João Silvério Trevisan aponta nos encontros de seus cursos, denominando esse traço ocular literário em “Fator Poético”, ou seja, a necessidade do indivíduo-escritor transformar em literatura o cotidiano que observa. Isto é, em muitos casos, converter a narrativa em leitura original. Porém, como expressar esse cotidiano de forma literária? Como transformar o seu olhar de escritor em fator poético?

Para aqueles que querem começar a escrever seus livros e estão com dificuldades em desenvolver uma narrativa diferenciada ou até mesmo mostrar uma texto que faça o leitor levantar a cabeça, uma ótima aula de literatura e processo criativo está na obra Cadernos 1 e 2, de Pedro Nava. Escrever é trabalho e treinamento, são estratégias e práticas para o escritor encontrar o seu olhar cotidiano de modo a oferecer subsídios de recursos e técnicas literárias. O célebre autor Pedro Nava brilhantemente desenvolveu em seus cadernos fatores poéticos com inventividade.

Para os leitores do Com a Palavra destacamos duas páginas de Cadernos 1 e 2, de Pedro Nava, onde uma simples brincadeira nos rascunhos das páginas de seus cadernos, de forma criativa, nota-se a transcendência de um olhar comum em Fator Poético. Uma atitude narrativa que, colocando em um texto literário fica original, único e admirável. Portanto, além de conhecer a intimidade dos pensamentos do autor, a obra, publicada pela Ateliê Editorial, é uma aula para as pessoas que pesquisam e querem aprender um método para evoluir o trabalho ficcional de seu livro. Escrever brincando, construindo a literatura de modo autoral, fazendo o leitor levantar a cabeça.

Veja abaixo:

OS CADERNOS – Este livro traz a público dois dos vários cadernos em que Pedro Nava registrava suas viagens. Com o tempo, esses escritos se tornaram um arquivo de fatos, pensamentos e leituras que o autor não queria esquecer. Mais tarde, Nava valeu-se desse vasto material no processo criativo de suas obras. Cadernos 1 e 2 é o início da publicação integral das anotações de Nava. Com elas, o leitor poderá tomar contato com o peculiar jeito de ser do memorialista.

PEDRO NAVA – Nasceu em Juiz de Fora, Minas Gerais, em 1903. Em 1927, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina de Belo Horizonte. Ainda na década de 1920, tornou-se amigo de modernistas como Carlos Drummond de Andrade e Manuel Bandeira. Clínico de renome, professor catedrático e membro de várias associações médicas brasileiras e estrangeiras, obteve reconhecimento literário a partir de 1972, com o início da publicação de suas memórias, pelas quais recebeu diversos prêmios. Suicidou-se no Rio de Janeiro, em 1984.

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