Com a Palavra

Com a Palavra nº24: os gêneros gregos

Em Literatura Grega: Irradiações, o premiado escritor Donaldo Schüler desenvolve um trabalho eficaz sobre a uma das culturas mais importantes do mundo. O autor elabora uma escrita se apoiando nos temas em torno dos gêneros líricos e narradores da literatura grega, passando pelas clássicas obras Ilíada e Odisseia.

CONFIRA AQUI A NOVA EDIÇÃO

Além disso, Schüler destaca os Historiógrafos, Romancistas, Pensadores, Oradores e Teatrólogos. “A arte narrativa renasce revigorada, quando, transcorridos séculos, se liberta de tutelas. A epopeia e o romance, o limite e o ilimitado, determinam os polos da invenção. Os gêneros gregos continuam a gerar”.

Os assinantes do Com a Palavra leram com exclusividade um trecho do capítulo Hinos Homéricos, presente na obra.

HINOS HOMÉRICOS

Restam-nos cerca de trinta hinos, dirigidos a diversas divindades, compostos para introduzir recitações de trechos épicos em dias de festas, os Hinos Homéricos. Os mais antigos apareceram no século VII a. C., outros são produzidos um século depois. A dependência dos hinos homéricos à epopeia mostra-se na metrificação, no vocabulário, na sintaxe; a participação subjetiva, a religiosidade espontânea os caracterizam.

Alguns deles, como o de Deméter, cantam divindades de escassa atuação. Os hinos maiores passam de quinhentos versos, os menores não alcançam dez. Um pronunciamento definitivo sobre o tamanho dos hinos é dificultado pelo precário estado de conservação dos manuscritos, as lacunas são muitas.

No “Hino a Apolo”, um dos mais longos, o poeta hesita quanto ao modo de louvar a divindade. Decide-se, por fim, a cantar o maravilhoso nascimento em Delos, a glória no Olimpo, o renome entre os homens. O hino se demora na construção do templo délfico e na origem dos sábios sacerdotes, digressões e epítetos retardam o avanço da narração ao gosto da epopeia. O calor subjetivo do longo monólogo não encontra paralelo em Homero, a unidade apresenta-se comprometida pela aproximação do Apolo de Delos ao de Delfos, rigor formal prejudicaria a espontaneidade, o pasmo entre a grandeza de Apolo alicerça a unidade.

No “Hino de Hermes” o tom é outro. Numa época inclinada à moralização dos deuses, estranharia devoção a um deus equívoco: cultor de enganos, protetor de ladrões. O poeta, cautelosamente próximo da objetividade homérica, ironiza as qualidades negativas, glorifica a inventividade.

O poema dirigido a Dioniso está entre os curtos. O poeta destaca a ternura de Ninfas maternas, a infância em paragens campestres, a renovação da vida; em breve invocação final, o poeta roga vida longa aos devotos. A religiosidade antiga, expressa aqui, será reelaborada por Eurípedes numa das peças mais arrebatadoras do teatro grego, as Bacantes.

Deixe um comentário