Como foram as primeiras produções televisivas no país? Os espaços-físicos? As técnicas de filmagem? Os programas exibidos? Os segmentos dos radioteatros e das radionovelas? Os consagrados diretores, atores, radialistas daquela época? A televisão brasileira produziu obras que até hoje compõem o imaginário coletivo. Foram programas de diversas qualidades na dramaturgia, documental e jornalística.
Esse vasto material cultural pode ser acompanhado na obra recém-lançada pela Ateliê Editorial e escritas pelo acadêmico e ator David José Lessa Mattos: A TV Antes do VT: Teleteatro Ao Vivo na Tupi de São Paulo. No livro, Lessa Mattos analisa o início da televisão, principalmente pela TV Tupi-Difusora, passando por diversos programas – Teatro de Romance, Seriados de Humor, entre outros.
Os assinantes do Com a Palavra leram com exclusividade um trecho do capítulo Origens do teleteatro: história e personagens, presente na obra.
Origens do teleteatro: história e personagens
por David José Lessa Mattos
Quando surge em São Paulo a PRF3-TV Tupi-Difusora, no dia 18 de setembro de 1950, os artistas da Cidade do Rádio que foram atuar diante das câmeras da televisão possuíam apenas uma pequena experiência artística adquirida praticamente nos trabalhos que vinham realizando como locutores e radioatores. Eram quase todos muito jovens ainda. Lia de Aguiar, por exemplo, a estrela das novelas de Oduvaldo Vianna, tinha só 23 anos quando apareceu pela primeira vez no vídeo como apresentadora do programa inaugural da televisão. Deste programa também participaram Yara Lins e Lolita Rodrigues, uma com vinte e outra com 21 anos havia pouco tempo.
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Era necessário, também, dispor de um repertório de inflexões vocais capaz de dar conta de todas as exigências de clareza e expressividade sonora do texto. Na prática, puderam constatar que uma leitura bem timbrada é sinal de talento artístico, da capacidade que tem o radioator ou a radioatriz de revelar a melodia interna das palavras – palavras que foram escritas para serem ouvidas e que pediam, antes do significado, sua decifração em sons. Por isso, como ninguém, tinham total conhecimento do que era falar ao microfone e, quando falavam, sabiam modular a voz com perfeição e com a devida atenção aos sinais ortográficos – sinais que funcionavam como notações de uma pauta musical: o ponto final era ponto final mesmo, marcando o encerramento da frase com um tom mais grave e cortante; a vírgula, de timbre mais agudo, era quase um suspiro; já a reticência, com seus três pontos, mantinha a frase em um desenlace qualquer; por fim, os pontos de interrogação e de exclamação se apresentavam como possibilidade de inflexões.
Sem dúvida, o rádio foi para esses artistas uma rica fonte de informações culturais e de conhecimentos práticos que os preparou para o exercício das profissões de ator e atriz não só na televisão, como também no cinema e no teatro.