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Uma caixinha de surpresas

Revista Superpedido | Agosto/setembro 2013

Em Clichês Brasileiros, o designer e escritor Gustavo Piqueira segue desafiando as possibilidades do livro impresso – desta vez, em uma edição que não tem capa tradicional nem lombada 

Gustavo Piqueira, autor de "Clichês Brasileiros"Com um trabalho notável à frente da Casa Rex, seu estúdio com sedes em São Paulo e em Londres que conquistou centenas de prêmios de design gráfico em todo o mundo, Gustavo Piqueira é nome obrigatório em qualquer seleção de artistas visuais que se escale no país. Mas que ninguém tente restringir seu jogo para apenas uma fatia do gramado: ele é daquele tipo de atleta que gosta de atuar em todas. Apaixonado por livros, Piqueira encontrou no mercado editorial um campo ideal para dar vazão à sua fecunda criatividade. Seja como escritor, tradutor, ilustrador ou até mesmo organizador de coleções, este craque tem produzido um elenco de obras que, por mais heterogêneas que pareçam, tem como fio condutor uma sólida e marcante característica: o inesperado.

Responsável por títulos tão díspares como o fictício Marlon Brando Vida e Obra, o irônico Manual do Paulistano Moderno e Descolado e o juvenil A Vida sem Graça de Charllynho Peruca, entre outros, ele volta a inovar com Clichês Brasileiros, lançamento da Ateliê Editorial. Desta vez, utilizando-se somente de imagens de um antigo catálogo de clichês tipográficos – matrizes outrora usadas para impressão –, o autor criou uma narrativa visual única. Aproveitando o duplo sentido do termo, conta a história do Brasil por meio de nossos clichês – desde os mais antigos, como os estereótipos da chegada dos portugueses e da catequização dos índios, até os da atualidade, caso dos engarrafamentos nas cidades e os condomínios fechados (confira na página seguinte algumas dessas imagens).

Porém, não é apenas aí que o livro surpreende. Depois de fixar um espelho na capa de sua obra anterior, Iconografia Paulistana, Gustavo Piqueira concebeu um livro sem capa nos moldes tradicionais – há apenas uma lâmina de madeira impressa em serigrafia, afixada na guarda com uma fita adesiva personalizada. Além disso, a lombada tem a costura exposta. Delírio de designer? Nada disso. “A ideia é expandir as possibilidades de um livro impresso em sua dimensão de objeto, mas mantendo um conteúdo que se sobrepõe à forma”, explica o paulistano, revelando sua preocupação em não se deixar levar apenas pelo lado visual. “Muitas vezes esses ‘livros-objetos’ não primam pela riqueza do assunto abordado, de tão preocupados que estão com a exuberância visual em si.”

Para essas obras, Piqueira também busca soluções que possibilitem tiragens industriais, a fim de colocar o livro na prateleira das livrarias. Afinal, em sua opinião, ao contrário do que muitos vaticinam, a edição impressa ainda tem um longo papel a cumprir. “Não acho que o livro digital seja ‘o’ futuro do livro. É ‘um dos’ futuros, não dá para cair nesse fatalismo de que o impresso irá morrer. Meus trabalhos recentes, como Clichês brasileiros e lconografia Paulistana, por exemplo, não funcionariam em versão digital.” Independente de qualquer prognóstico, Gustavo Piqueira está fazendo sua parte: já finalizou mais uma obra, que deve ser impressa ainda neste ano, e se prepara para começar novos projetos. Os assuntos? Melhor aguardar. Afinal, ao menos quando se trata de livros, este palmeirense é uma verdadeira caixinha de surpresas.

Acesse o livro na loja virtual da Ateliê

Assista a entrevista com o autor durante o lançamento do livro

Ilustração do livro: "Clichês Brasileiros"

Ilustração do livro "Clichês Brasileiros"

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