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Em livro da Ateliê Editorial, Tatiana Belinky fala sobre os primeiros programas infantis na TV

A obra Pioneiros do Rádio e da TV no Brasil são fragmentos de uma história de mais de cinquenta anos, contada pelos principais artistas e profissionais que atuaram no rádio e na televisão brasileiros nas décadas de 1940, 1950 e 1960. Estas histórias entretêm, no seu formato de entrevista, e exercem o importante papel de colaborar para a preservação da memória da produção cultural do país.

Os depoimentos reunidos no livro em destaque aqui, segundo de uma série em dois volumes publicados pela Ateliê Editorial e organizado por David José Lessa Mattos, começaram a ser colhidos pela atriz Vida Alves em 1997 na forma de entrevistas gravadas em videoteipe, cada um com aproximadamente uma hora de duração.

Vida Alves faz a todos os entrevistados uma série de perguntas como, por exemplo, Seu nome?Os nomes de seus pais?Onde nasceu?Onde fez os primeiros estudos?, trazendo para o leitor um conjunto de informação íntima do entrevistado, assim como particularidades sobre a história cultural do Brasil, principalmente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Cultura urbana, associada ao processo de industrialização e modernização do país, em que o rádio, a partir dos anos de 1930, e a televisão, a partir dos anos de 1950, tiveram importante papel.

Leia a seguir um trecho da entrevista com a escritora Tatiana Belinky, presente no segundo volume de Pioneiros do Rádio e da TV no Brasil. Na mesma obra, também constam os depoimentos de Abelardo Figueiredo, Antonino Seabra, Eneas Machado de Assis, José Blota Junior, Lia de Aguiar e Murilo Antunes Alves.

“fui aprendendo a linguagem da televisão”

VIDA ALVES: Como se deu a ida de vocês – Tatiana Belinky e Júlio Gouveia – para a televisão?
TATIANA BELINKY: Tudo aconteceu por causa do Tesp [Teatro-Escola de São Paulo] e das peças de teatro para crianças que montávamos. A televisão foi inaugurada em São Paulo e, quando chegou o final do ano, a TV Tupi não tinha nada para oferecer ao público infantil. O pessoal da televisão vinha do rádio e não possuía um espetáculo pronto para ser oferecido às crianças no Natal. Então, alguém lembrou do Tesp e fomos convidados para apresentar uma de nossas peças. Levamos para o estúdio da TV o espetáculo que tínhamos acabado de montar, sem mudar nada, do jeito que estava. Fizemos um ensaio com três câmeras e, depois, ele foi transmitido como presente de Natal e Ano-Novo para as crianças de São Paulo.

VA: E como foi começar a escrever de repente para a televisão? A Senhora, que vinha do teatro, teve dificuldades?
TB: No começo foi difícil, me deu um pouco de trabalho, mas logo peguei o jeito. Eu e o Júlio fazíamos uma dobradinha, trabalhávamos realmente juntos, um ajudava o outro e ninguém ficava inteiramente perdido. Fui aprendendo a linguagem da televisão, o jeitão de se fazer um scipt e, em pouco tempo, passei a escrever direto no estêncil. Naquele tempo, não havia xerox, só o estêncil, um papel especial que a gente usava para tirar cópias no mimeógrafo. Então, eu pegava uma folha de estêncil, punha na máquina e escrevia direto. Depois, era só tirar cópias. Escrevia à noite, mas passava o dia inteiro pensando, matutando, lendo, procurando assunto. Ia à feira, levava os filhos à escola, ia buscar os filhos na escola, fazia tudo sempre pensando: “O que vou fazer hoje à noite?” Então, às nove e meia da noite, quando me sentava diante da máquina, já tinha tudo bolado, pensado. O tempo que gastava para escrever o programa era praticamente só o da redação.

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Este primeiro volume da série reúne alguns dos cerca de cem depoimentos de artistas e profissionais que atuaram nas emissoras de rádio nos anos 1940 e na televisão, nas décadas de 1950 e 1960, muitos deles tendo participado da inauguração em São Paulo, no dia 19 de setembro de 1950, da PRF-3 TV Tupi-Difusora, primeira emissora de televisão do país. O leitor poderá ler depoimentos de Álvaro de Moya, César Monteclaro, Dias Gomes, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), Lima Duarte, Marcos Rey e Walter Avancini.

Este segundo volume da série reúne alguns dos cerca de cem depoimentos de artistas e profissionais que atuaram nas emissoras de rádio nos anos 1940 e na televisão, nas décadas de 1950 e 1960, muitos deles tendo participado da inauguração em São Paulo, no dia 19 de setembro de 1950, da PRF-3 TV Tupi-Difusora, primeira emissora de televisão do país. O leitor poderá ler depoimentos de Abelardo Figueiredo, Antonino Seabra, Eneas Machado de Assis, José Blota Junior, Lia de Aguiar, Murilo Antunes Alves e Tatiana Belinky.

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DAVID JOSÉ LESSA MATTOS nasceu em São Paulo, em 1942. Na década de 1950, teve participação intensa como ator infantojuvenil nos teleteatros da TV Tupi-Difusora de São Paulo. Em 1964, ingressa no Teatro de Arena de São Paulo, participando como ator das montagens de “O Tartufo”, “Arena Conta Zumbi” e “Arena Conta Tiradentes”, com direção de Augusto Boal. Em 1968, já formado em Ciências Sociais pela USP, segue para Paris como bolsista do governo francês. Lá, licencia-se em Sociologia e realiza o mestrado em Sociologia da Cultura na Universidade de Paris X-Nanterre. Em 1974, de volta ao Brasil, torna-se professor de Sociologia e Política na Fundação Getúlio Vargas de São Paulo. Em 1975, ingressa na Unicamp como técnico docente de pesquisa. Em 1978, retoma as atividades artísticas, atuando por algum tempo como ator no teatro, na televisão e no cinema, particularmente nos filmes dirigidos por seu velho amigo, o cineasta Roberto Santos. Em 1984, retorna à vida universitária. Atualmente é professor aposentado do Instituto de Artes da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

VIDA ALVES nasceu em 1928 e foi atriz, autora e apresentadora brasileira, pioneira da televisão no país. Fez parte de uma importante geração de atores e atrizes que iniciaram com a rádio, atuando em radionovelas e seguindo para as telenovelas. Como escritora também foi muito importante para a televisão, tendo escrito Tribunal do Coração, transmitido em 1952 pela TV Tupi. Em 1995, fundou a Associação dos Pioneiros da Televisão Brasileira (Apite), que mais tarde veio a se tornar a Pró-TV, e que tem como objetivo preservar a memória da televisão brasileira. Ela presidiu a Pró-TV até seu falecimento, em 2017.

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